sábado, 21 de abril de 2007

Presidenciais francesas: o fim de uma época.

Alguns pontos de um artigo bem mais longo que escrevi para o caderno Aliás, publicado no « O Estado de São de Paulo » de domingo, dia 22 de abril.
- Esta é a oitava eleição presidencial direta francesa (elas ocorreram em 1965, 1969, 1974, 1981, 1988, 1995, 2002). Pela primeira vez, os três principais candidatos nasceram no pós-guerra. Pela primeira vez (salvo a exceção de 1974)
nenhum dos atuais candidatos ocupou ou ocupa o cargo de presidente ou de primeiro-ministro.
- Os dois principais candidatos, Sarkozy e Royal, tiveram que enfrentar sua própria máquina partidária antes de se afirmarem como presidenciáveis. Ambos contrariam a tradição de sua respectiva família política.
- Há uma evidente virada de geração. Três presidenciáveis beirando os cinquenta anos jogam para escanteio lideranças mais antigas e estreitamente incorporadas aos aparelhos partidários, como Villepin ou Jospin. Num país onde o atual presidente teve seu primeiro cargo ministerial há quarenta anos, não é pouca coisa.
- Como o PC virou suco – a candidata comunista obtém apenas 3% dos votos nas sondagens desta eleição – o PS fica sem ter para onde correr no segundo turno, porquanto o Partido Verde também desabou e os votos da extrema-esquerda não dão para o gasto. Ségolène, com o seu socialismo pós-nacional, tenta resolver a parada, saindo pelo centro e combinando reinvidicações tradicionais de esquerda (direitos trabalhistas, defesa do Estado de Bem Estar Social) com a temática mais conservadora ( sentimento patriótico, valores familiais e paz social).
- Sarkozy propõe soluções que também são heterodoxas para seu próprio campo. Contra a diplomacia gaullista e chiraquiana que enfrenta os EUA, ele propõe-se a estabelecer uma aliança mais alinhada com Washington. No plano nacional, ele defende uma liberalização da economia e a diminuição do peso do Estado francês.
- Há um novo embate político na França. À esquerda, apresenta-se a primeira mulher com chance de chegar à presidência, a qual afasta-se do militantismo herdado de maio de 1968 e orienta sua plataforma para o centro do espectro político. No campo conservador surge, pela primeira vez no pós-guerra, um líder verdadeiramente de direita, decidido a abandonar o gaullismo social para chegar mais perto do liberalismo econômico.

2 comentários:

Fabiane Popinigis disse...

Pena que não dá pra votar no Lichtenstein. Esse era bom mesmo!

Unknown disse...

mas e a forma como Madame Royal construiu seu programa, "ouvindo as bases" também não é nova e, talvez, mais à esquerda que a tradição?