segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Nicolas Sarkozy


Escolhido ontem como candidato da direita, Nicolas Sarkozy deu o pontapé inicial à campanha presidencial. Candidato oficial do partido de filiação gaullista - a UMP - Sarkozy não aparece, contudo, como um representante autêntico do gaullismo.
Quem encarna a doutrina gaullista – tanto na afirmação da independência nacional frente à hegemonia americana como na defesa de políticas sociais - é o primeiro-ministro Dominique de Villepin. Rival de Sarkozy, Villepin ilustrou-se na sessão do Conselho de Segurança da ONU, opondo, em fevereiro de 2003, o veto da França à guerra anglo-americana contra o Iraque.
Suas medidas de políticas públicas – agora evidenciadas pela afirmação de um “direito à moradia” inscrito na legislação ao mesmo título que o direito à saúde ou o direito à escola – aproximam-se do gaullismo social propugnado pelo ex-primeiro-ministro Chaban Delmas (1969-1972) e seguido, num nível mais retórico, por Jacques Chirac.
Situado noutro quadrante, Sarkozy vem restabelecer o primado direitista da ‘Lei e da Ordem’, tal como o fizera o ex-presidente
Georges Pompidou (1969-1974) ou o ex-primeiro-ministro Raffarin (2002-2005). Numa viagem recente aos EUA, Sarkozy fez críticas indiretas à maneira pela qual o governo francês conduz as relações franco-americanas. No plano interno, ao contrário de Chirac e de Villepin, que opõem-se frontalmente à extrema-direita de Le Pen, Sarkozy tenta aliciar o eleitorado lepenista com um discurso duro sobre questões de ordem pública e de sociedade.
Por isso, o Partido Socialista e o comando de campanha de Ségolène Royal desferiram, de bate-pronto, seu ataque adrede preparado: para eles, com a candidatura Sarkozy, “a direita violenta está retornando ao galope”. “Há algo do Berlusconi neste homem”, completou Dominique Strauss-Kahn, um importante dirigente socialista.
A estratégia da esquerda é óbvia: atrair uma parte do eleitorado gaullista, partidária de Villepin e de Chirac e arisca ao conservadorismo de Sarkozy, para a candidatura de Ségolène Royal.
Tal vai o ser o quadro do debate eleitoral francês até a eleição presidencial de abril. Voltarei ao assunto, é claro.

3 comentários:

Anônimo disse...

Se acontecer o mesmo desastre que ocorreu na Itália de Silvio berlusconi, a França estará retrocedendo no tempo. E viva a América Latina.

Anônimo disse...

Não, não, os franceses não farão isso, vão de Ségolène Royal, assim espero...

Anônimo disse...

Caro Professor Alencastro:
Lendo este texto a aquele em que há a biografia política de Ségolène Royal (postado em 26/11/2006), me lembrei de um assunto de que tenho vaga lembrança: a quase "obrigatoriedade" de os altos políticos franceses freqüentarem a Ecole Nationale d’Administration.
Assim, abuso do meu direito de leitor e invoco vossas luzes para nos esclarecer acerca da verdade ou não de tal "obrigatoriedade".
Com meu abraço fraterno.