domingo, 28 de janeiro de 2007

A lembrança da pobreza


Houve, nestes dias, uma grande comoção na França pela morte do abade Pierre, o abbé Pierre, aos 95 anos. Padre capuchinho, membro ativo da Resistência francesa contra a ocupação nazista, o abade Pierre fundou depois da guerra o Movimento Emaús de ajuda aos pobres e aos sem-teto. Ganhando uma dimensão internacional, este movimento também está presente no Brasil.
Muitos estrangeiros, mesmo quando já moram aqui há muitos anos, não entendem bem o desconsolo demonstrado agora por franceses de todos os meios sociais.
Penso que este sentimento de perda tem uma dupla significação.
Por um lado, o abade Pierre representava o cristianismo social próximo do humanismo laico que cimentou a solidariedade entre os franceses durante a guerra e as dificuldades do pós-guerra. Esta corrente não logrou se transformar em movimento político e esvaiu-se em lutas partidárias e nas clivagens internas geradas pela Guerra Fria. A França de hoje aparece politicamente dividida, longe do abade Pierre e do clima de solidariedade militante vivido na Resistência e no pós-guerra. Sob a liderança de Le Pen, a extrema-direita eleitoralmente mais poderosa da Europa pode chegar de novo no segundo turno nas presidenciais em abril.
Por outro lado, na rememoração da vida e da militância do abade Pierre, com os canais de televisão mostrando as imagens da miséria em branco e preto das cidades e das zonas rurais nos anos 1940 e 1950, os franceses redescobrem seu país pobre e exaurido no pós-guerra. A tristeza pela morte do abade Pierre carrega a emoção da lembrança das penúrias pelo que o país passou num passado ainda recente.

Um comentário:

Anônimo disse...

ótimo post