quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Bomba made in Brasil

Desenho de Alfred Agache para a reforma urbana do Rio, O Cruzeiro, 10/11/1928

A revista britânica Jane’s, a mais reputada publicação do mundo em assuntos militares, publicou ontem uma matéria sobre o programa nuclear do Brasil. Nelson de Sá repercutiu a notícia na sua coluna da Folha de hoje. No entanto, ao contrário da leitura de Nelson de Sá, achei que a matéria da Jane’s tinha um tom voluntariamente ambigüo.
A frase inicial do texto, « While Brazilian nuclear intentions are not military in nature, the development of its civilian programmes could be motivated partly by political and commercial considerations”, deixa margem para concluir que o programa brasileiro pode ser ainda “partly” motivado por considerações militares. O artigo também ironiza a pretensão brasileira de esconder tecnologia nuclear alegamente inventada pelo Brasil, mas “já desenvolvida há mais de uma década com assistência técnica estrangeira”.
Depois de dizer que a Constituição limita o programa militar nacional ao uso exclusivamente pacífico (mas sem mencionar a ratificação do Brasil do TNP, em 1998), a revista conclui com uma frase de bem escrita ambigüidade: ” Yet potential capability remains; statements made since 2002 by current President Luiz Inácio Lula da Silva, Science and Technology Minister Roberto Amaral, and other Brazilian government and military officials have reinforced the belief of many observers that Brazil's civilian nuclear energy and naval propulsion programmes could be quickly diverted to acquire weapons-grade capabilities in the unlikely event of a change in government nuclear policy”.
As declarações duvidosas do ex-ministro
Roberto Amaral (que já saiu do governo há 4 anos), como as de outras autoridades, a respeito da finalidade do programa nuclear brasileiro, foram sempre reenquadradas pelo Itamaraty, o qual reafirmou o vínculo do governo ao TNP e a uma política pacifista.
O Brasil é o único país dos BRICs que não tem bomba atômica e que renunciou a tê-la num dispositivo constitucional reiterado pela assinatura de tratados internacionais (TNP e Tatlelolco). A tchurma da Jane’s ainda acha pouco, embora afirme ser « unlikely” (improvável) uma mudança na política pacífica do (deste) governo. Não li a matéria toda da revista, cujo teor é 4 vezes maior do que o texto postado no sítio. Posso estar sendo injusto. Mas tal como aparece no sítio, o texto retrata uma maneira elegante de exprimir uma opinião sacana : para a Jane’s, a legalidade constitucional e o respeito do Brasil aos tratados internacionais não vale lhufas.

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu sempre posto comentarios mas acho que eles nunca chegam ou nao sao publicados. Sei lá. Deixa para lá. Apenas eu teste.

José Elesbán disse...

Caro Professor,
Não seria isto resquício de imperialismo e colonialismo? Com base na sua conclusão, me parece que sim.

luiz felipe de alencastro disse...

Cara Clàudia
seus comentàrios não chegaram.
abraços
lfelipe

MConde disse...

Ora, não sei o que há de sacana na constatação de que a posição brasileira em relação ao assunto pode mudar. Armas atômicas são o grande elemento de dissuasão político-militar no mundo de hoje, e o Brasil tem direito de rever sua decisão se achar conveniente.

Anônimo disse...

CONCORDO COM VC. E TAMBÉM NA MINHA OPINIÃO É MUITA PREPARAÇÃO PARA GUERRA NESTE MUNDO,PRINCIPALMENTE COM MAIS E MELHORES ARMAS.
BJUS
HELENA

Anônimo disse...

CONCORDO COM VC. E TAMBÉM NA MINHA OPINIÃO É MUITA PREPARAÇÃO PARA GUERRA NESTE MUNDO,PRINCIPALMENTE COM MAIS E MELHORES ARMAS.
BJUS
HELENA