segunda-feira, 23 de julho de 2007

Desordem no ar

A série de desastres, de apagões nos aeroportos, de descontroles dos controladores de vôo, de afrontas das companhias de aviação e de declarações estapafúrdias dos membros do governo revela algo mais que o caos aéreo.
Falastrão incorrigível, o ministro Mantega afirma que a confusão nos aeroportos é sinal de progresso. Sobre o mesmo assunto, a ministra Marta Suplicy fez uma piada grotesca pela qual se desculpou. Porém, depois do crash de Congonhas, quando foi interrogada, disse que nada tinha a declarar. Caramba! Nada a declarar depois de um drama destas dimensões?! O ministro Waldyr Pires, homem decente que já deveria ter se retirado do ministério se seguisse seu antigo bom senso político, vem à TV eximir-se das responsabilidades inerentes à sua pasta. Marco Aurélio Garcia fez um gesto obsceno na privacidade de seu escritório. A carta de um leitor da Folha de S. Paulo, publicada hoje, pretende que se tratou de um “desabafo” contra acusações indevidas ao governo. Tudo bem. Mas as justificações dadas em seguida por Marco Aurélio denotam, no mínimo, falta de juízo político. No mesmo pique, ninguém no governo se tocou sobre o fato de que não era oportuno condecorar agora dois altos dirigentes da ANAC. Enfim, Lula esperou sarar do terçolho para dar satisfações à nação e apresentar suas condolências às famílias que choravam seus mortos há mais de três dias.
Separadamente, cada um destes fatos pode ser atribuído à falhas de assessoria. Postos lado a lado, eles revelam a realidade mais patética e mais grave de um governo que parece descolado das preocupações do país e dos sentimentos da população.
Como pequena contribuição ao inventário da baderna no ar, incluo a foto acima, retratando um incidente ocorrido num táxi aéreo em que viajei na semana passada na Amazônia. O bimotor ia levantando vôo com a tampa de um dos 2 tanques de querosene aberta (cf. o pequeno ponto preto sobre a asa). Voltou da ponta da pista para fechar o tanque depois do alerta de um de meus companheiros de viagem.
Noutro registro, cabe assinalar que o desgoverno aéreo junta-se às pauleiras envolvendo atletas brasileiros no Pan e à grossura de uma parte do público carioca para comprometer as chances de o Brasil organizar as próximas
Olimpíadas e a Copa do Mundo.

16 comentários:

Anônimo disse...

Sou bem avesso às idéias políticas do Delfim Netto, mas ele apresentou propostas bem interessantes pra solucionar o caos aéreo.

É uma pena que o governo tenha dado um show de inocuidade nesse caso. É realmente abominável.

Anônimo disse...

Salve, professor Alencastro. Como Foram as férias?

Tenho acompanhado atentamente, daqui de cima de um coqueiro, os esforços da mídia corporativa no intuito de desestabilizar o governo Lula.

Chega a ser vergonhoso para o nosso país, esse tipo de jornalismo "pé-de-chinelo" que temos por aqui.

Já no finalzinho da campanha presidencial, enquanto a mídia preparava o golpe do "De onde veio o dinheiro?" aconteceu a queda do avião da GOL, abalroado em pleno vôo pelos artistas americanos.

Os controladores aéreos aproveitando a confusão criada pela mídia, amotinaram-se para reivindicar melhores soldos.

O Caos.
Lembra-se de um jornalista americano que espalhou que o mundo estava sendo invadido por marcianos?

Eles querem o caos, venha de onde vier. Os aeroportos vivem repletos de "jornaleiros" esperando um desastre.

As declarações.
Sabe, sobre as declarações infelizes da ministra, creio que também foi um desabafo. Claro que não concordo e achei "ridículo nos urtimo" o que ela proferiu.
Também achei que o Mantega exagerou.

Agora o "Top, Top" do Marco Aurélio eu também fiz simultaneamente em minha casa, quando ouvi eles dizerem que o reversor estava com defeito. Agora, engraçado: o reversor não causaria este acidente num pouso, mas será que não causaria num possível arremeto? E aquele TAM que caiu porque estava com um reversor defeituoso, não conta?

E se a causa tiver sido a pista, devemos sacrificar o Lula?

Eles, se aproveitando de um desastre que comoveu o mundo, sem ligar a mínima para dor dos enlutados, criaram um fato político e já acharam o culpado: o descaso; o desgoverno do governo Lula.

Abraços

Blog do Macunaíma disse...

Senhor Alencastro Figueiroa,

Anexei com muito gosto seu blog ao meu, faz algum tempo. Penso que apenas engrossa uma mal e fadada sina de destruir o muito pouco que se poderia construir. S�o percal�os dessa labuta insana - a de viver neste pa�s. Acho que vou seguir seu destino. Cabe mais um?

jair alves - dramaturgo - sp

luiz felipe de alencastro disse...

Caro Carlinhos Medeiros
seu comentàrio foi deletado por engano. Vc pode mandà-lo de novo?
abraços

Anônimo disse...

Felipe, aqui em Recife estamos vivendo o maior caos na sáude pública, mais de cem médico pediram demissão e mais outros pedirão hoje. A imagem do inferno é uma emergência no Recife. O governo estadual também enfrenta uma greve de mais de 40 dias dos professores do Estado. No mínimo para tanta gente sofrendo é melhor morrer de desastre aéreo no Brasil.

Anônimo disse...

Tudo bem professor. Era algo a respeito da mídia. Está fazendo muito alarde, totalmente desnecessário, só isso.

Abs.

Anônimo disse...

Retificando, professor. Não foi um jornalista, foi um cineasta.

Abs

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

O Governo temque dar um jeito no problema aéreo sem dúvida, Mas nesse seu artigo acho que o senhor pegou pesado demais com o Governo e se esqueceu de comentar o problema TAM: uma empresa irresponsável que economiza em manutenção e treinamento colocando a vida de passageiros em risco tantas vezes.
Fora isso temos coisas muito mais importantes para resolver (saúde, reforma agrária, educacnao pública etc) do que a nossa imagem no exterior para termos chance de sediar não sei o que.
Até.

Vera Pereira disse...

Os fatos mudam com uma velocidade que talve o senhor, aí de Paris, não tenha condições de acompanhar. Vejamos: a Airbus soltou uma declaração pública (coincidente com a degravação dos dados da caixa-preta do avião acidentado da TAM), reiterando que o uso inadequado do manete na hora da aterrissagem em condições desfavoráveis (falta de reverso operante, sobrecarga no avião - passageiros e bagagens - mau tempo, etc.)pode fazer com que um avião aterrissando acelere em vez de frear; o avião da cia. Pantanal que escorregou na pista molhada de Congonhas na véspera, estava com os dois pneus furados, conforme a investigação; um histórico já publicado dos inúmeros acidentes com aviões da TAM no último ano; a ganância da empresa materializada em aviões com defeito, como aquele Airbus, que costumam viajar durante 14 horas diárias; o mesmo Airbus já havia apresentado problema técnico na véspera, etc. Conclusões apressadas queimam a boca.

Anônimo disse...

Gostaria apenas de salientar a absoluta falta de rigor no encadeamento das idéias de seu comentário. Relacionar imagens semelhantes não é suficiente para construir um pensamento coerente. Isso, tenho certeza, o senhor deve saber, mas escrever pequenas notas em um espaço virtual não e exime dos deveres de sua profissão.

Anônimo disse...

professor

sei que a decisão tem importância zero, mas desisti do sr. dos textos e do ser humano que ainda considero exemplar (o acadêmico brilhante que desce da torre de marfim e divide seu saber com a plebe ignara. comportamento que devia ser habitual, mas, infelizmente, é incomum na terra de santa cruz). desisto porque perdi a esperança que volte, pelo menos em breve, a usar sua inteligência, conhecimento, sensibilidade e bom senso para exercer a crítica consciente e compromissada que fez por um bom tempo e me cativou. lamentavelmente não só para mim, vejo que o sr. decidiu mudar suas amizades. azar o nosso. apenas sugiro que leia o texto publicado por luís fernando verissimo no último domingo e reflita sobre ele. encerro com um trecho do próprio artigo de nosso mais importante intelectual e melhor escritor nos dias de hoje: "antes de participar de um coro, veja quem estará de seu lado".

abraço fraterno,
com esperança de reencontrá-lo no futuro
carlos alberto balista

luiz felipe de alencastro disse...

Vera,
estou no Brasil até setembro e estou de acordo com você: a ganância das companhias agravou a crise aérea. ainda assim, penso que faltou comando do governo, como o próprio Lula reconheceu.
abraços

luiz felipe de alencastro disse...

Caro Balista
agradeço suas palavras amáveis e respeito sua opinião. mas acho que o governo Lula tem sua parte de responsabilidades.mesmo admitindo que tudo tenha sido culpa da TAM, cabia também ao governo, que já está no seu quinto ano, não deixar as companhias aéreas impor a lei do lucro em detrimento da segurança dos passageiros.

Vera Pereira disse...

Caro professor, obrigada por seu comentário. Creio, porém, que as insuficiências do sistema aéreo brasileiro para atender ao enorme crescimento da demanda, junto com a recente formação de um duopólio no setor de aviação civil, e as prováveis, ou melhor possíveis, inadequações da Anac, agência reguladora criada nos moldes das suas congêneres no governo FHC, justamente para isolar o Estado de interferir na liberdade de mercado das empresas privadas - tudo isso não tem nada a ver com os acidentes com o avião da Gol em 2006, ou com o recente acidente com o avião da TAM. No primeiro caso, não dá mais para esconder que os pilotos do jatinho da Legacy, empresa particular, além de desconhecerem o equipamento, desligaram o tal transponder, e sem esse gesto, o choque de aeronaves não teria ocorrido, com ou sem a negligência dos controladores de vôo. No segundo caso, ainda é cedo para concluir, mas também não dá para esconder a colaboração importante de falhas de elementos essenciais da aeronave. Nada disso tem a ver com decisões das autoridades da Infraero, da Anac ou do ministério da Defesa, menos ainda com o presidente da República. Misturar essas situações é justamente a estratégia da mídia para culpar o governo Lula previamente e tirar proveito político, eleitoral e comercial disso. Salvo se considerar-se, como querem alguns, que as autoridades do setor de aviação civil teriam a obrigação de conter a ganância das cias. aéreas e impor-lhes uma prática de transporte, manutenção de aeronaves e treinamento dos pilotos que elas, como empresas privadas, sempre teriam condições de escamotear. Não lhe parece que interferir dessa maneira na "livre iniciativa" das empresas aéreas é dificílimo dentro dos padrões da democracia e das regras e finalidades das agências reguladoras criadas após as privatizações do governo anterior? Pois se o governo não podem nem demitir o presidente da Anac?

sandro so disse...

Prof. Alencastro,
nada (muito menos "pruridos" pol�ticos) justifica o sil�ncio do governo diante da trag�dia da TAM, assim como nada compensa as vidas humanas nela perdidas. Seguran�a � (deveria ser) prioridade nesse assunto. Mas j� deu tudo o que tinha a lenga-lenga classe-m�dia das pautas jornal�sticas de que o "caos" a�reo deve ser resolvido urgentemente, pois repetir isso � esquecer do eterno caos da sa�de e da educa�o do Brasil, que nunca, jamais tiveram um empenho e uma cobertura jornal�stica e provocaram tamanho "clamor" no "povo" brasileiro.
Minha admira�o,
Sandro Ornellas