David, Les Sabines, 1799 (detalhe) © Musée du Louvre/A. Dequier - M. Bard
Assisti ao debate de Ségolène com Bayrou. Ela não se saiu mal. No cara-a-cara ela está bem mais à vontade do que nos discursos. Bayrou foi educado.
Mas os comentários que ouvi pouco depois na mercearia da esquina não deixam dúvida: Ségolène é vítima da baixaria machista, a qual, como todo mundo sabe, não é praticada só pelos machos. Veio a história das fotos dela de bikini (e daí ?, será que ela tinha que usar macacão para ir à praia que ela sempre foi com os quatro filhos ?). Depois falou-se de suas saias. Supostamente, ela deveria usar terninhos masculizantes como os de Hillary Clinton, Condoleezza Rice, Angela Merckel, Michèle Bachelet ou a ministra da Defesa francesa, Michèle Alliot-Marie. Saia, só para mulheres nascidas em 1925, como Margareth Thatcher. Nascida em 1953, Ségolène vai em frente de saia. De vez em quando vem ainda a aporrinhação de que ela não é casada com o pai de seus quatro filhos, François Hollande. Sobretudo, fala-se e escreve-se que ela é despreparada. Passa-se batido sobre o fato de que ela foi três vezes ministra, formou-se nas faculdades da elite francesa, etc.
Elaine Sciolino, a excelente jornalista do Herald e correspondente do NYT em Paris, fala disso, e também das andanças de Cecile, a mulher de Sarkozy, contando coisas que devem deixar os leitores da gringolandia meio chocados. A correspondente do Le Monde nos States, Corine Lesnes, tira um pouco sarro da história toda no seu blog.
Entretanto, a presença de uma mulher no segundo turno não é o único dado novo na eleição. Listei alguns noutro post, mas esquecí algo importante, e insuficientemente mencionado até agora: Sarkozy é o primeiro francês filho de imigrantes que tem a chance de se tornar presidente.
Seu pai vinha da pequena nobreza húngara e fugia da invasão da Hungria pela URSS, em 1944. Muito provavelmente, não terá encontrado as mesmas dificuldades que um imigrante analfabeto africano chegado na França em 1984, fugindo de uma invasão de ganhafotos ou da miséria na sua terra natal. Contudo, num país acusado, a torto e a direito, de racista, não é pouca coisa.
Se Sarkozy for eleito, será algo inédito numa grande democracia ocidental. Nos EUA há Schwarzeneggers governadores, mas não houve, no passado recente, Sarkozys presidentes. Michael Dukakis, filho de imigrante grego, foi batido por Bush pai nas presidenciais de 1988. No Brasil, salvo erro, o filho de imigrante que subiu mais alto pelo voto popular foi Paulo Maluf.
Mas os comentários que ouvi pouco depois na mercearia da esquina não deixam dúvida: Ségolène é vítima da baixaria machista, a qual, como todo mundo sabe, não é praticada só pelos machos. Veio a história das fotos dela de bikini (e daí ?, será que ela tinha que usar macacão para ir à praia que ela sempre foi com os quatro filhos ?). Depois falou-se de suas saias. Supostamente, ela deveria usar terninhos masculizantes como os de Hillary Clinton, Condoleezza Rice, Angela Merckel, Michèle Bachelet ou a ministra da Defesa francesa, Michèle Alliot-Marie. Saia, só para mulheres nascidas em 1925, como Margareth Thatcher. Nascida em 1953, Ségolène vai em frente de saia. De vez em quando vem ainda a aporrinhação de que ela não é casada com o pai de seus quatro filhos, François Hollande. Sobretudo, fala-se e escreve-se que ela é despreparada. Passa-se batido sobre o fato de que ela foi três vezes ministra, formou-se nas faculdades da elite francesa, etc.
Elaine Sciolino, a excelente jornalista do Herald e correspondente do NYT em Paris, fala disso, e também das andanças de Cecile, a mulher de Sarkozy, contando coisas que devem deixar os leitores da gringolandia meio chocados. A correspondente do Le Monde nos States, Corine Lesnes, tira um pouco sarro da história toda no seu blog.
Entretanto, a presença de uma mulher no segundo turno não é o único dado novo na eleição. Listei alguns noutro post, mas esquecí algo importante, e insuficientemente mencionado até agora: Sarkozy é o primeiro francês filho de imigrantes que tem a chance de se tornar presidente.
Seu pai vinha da pequena nobreza húngara e fugia da invasão da Hungria pela URSS, em 1944. Muito provavelmente, não terá encontrado as mesmas dificuldades que um imigrante analfabeto africano chegado na França em 1984, fugindo de uma invasão de ganhafotos ou da miséria na sua terra natal. Contudo, num país acusado, a torto e a direito, de racista, não é pouca coisa.
Se Sarkozy for eleito, será algo inédito numa grande democracia ocidental. Nos EUA há Schwarzeneggers governadores, mas não houve, no passado recente, Sarkozys presidentes. Michael Dukakis, filho de imigrante grego, foi batido por Bush pai nas presidenciais de 1988. No Brasil, salvo erro, o filho de imigrante que subiu mais alto pelo voto popular foi Paulo Maluf.
P.S. - Tem se falado que outros países já elegeram mulheres para a chefia de seus governos, salvo os EUA e a França, pátrias das duas grandes revoluções democráticas e dos direitos do homem. A historiadora Mônica Leite Lessa, num artigo em O Globo, interroga-se sobre este ponto. Contudo, é preciso tomar em consideração que as primeiro-ministras são, de fato, eleitas deputadas que posteriormente chefiam maiorias parlamentares. Enquanto Ségolène Royal e Hillary Clinton, eventualmente, serão eleitas diretamente presidentes. A única exceção nos nomes citados por Mônica é a social democrata Tarja Halonen, eleita em 2000 e reeleita em 2006 à presidência da Finlândia pelo voto direto. Mas na Finlândia, os poderes constitucionais do presidente são muito mais reduzidos do que na França ou nos EUA.
8 comentários:
Professor Alencastro,
Como dizem algumas propagandas na televisão brasileira, "E tem Mais!
Sendo filho de uma judia, tecnicamente Sarkosy também é judeu. E, se for eleito (eu prefiro a Ségolène) será o primeiro presidente judeu em democracias ocidentais (ou estou errado? já houve algum antes?)
Nada contra imigrantes e/ou judeus, mas prefiro a francesa na presidência do país. Abs
Salve, professor Alencastro.
E eu que pensava que esse tipo de bizarrice eleitoreira só se dava aqui no Brasil. (?!)
Ganhe quem ganhar, Ségolène ou Sarkozy, a impressão que me dá é que tudo vai continuar na mesma toada (Não sei se é bom ou ruim). Apesar dos ineditismos mencionados. A França me parece um país que só muda profundamente com revoluções, mesmo que Tocqueville tenha afirmado que um grande feito da Revolução de 1789 foi aprofundar a centralização política nascida no Antigo Regime.
Não consigo perceber qual a diferença de ser mulher, judeu, imigrante, ET.
Parece-me que importante são as idéias e o compromisso com elas.
Sobre homens públicos descendentes de imigrantes recentes no Brasil, Geisel era filhos (ou neto) de alemães luteranos. E consta que Juscelino era de origem cigana.
Helion
Professor,
Muito bom poder acompanhar as eleições pelo seu blog. Para além da frieza do noticiário, é muito gostoso saber o que andam falando nas ruas, na feira, no noticiário.
André Muggiati, de Manaus
Que pena,
Se não der Ségolène, vai ser dificil vê-la todos os dias na internet, nos jornais impressos, televisivos....Que pena.
Mas você ai veja o que pode fazer por mim em relação a êxtase.
jair alves - dramaturgo- Brasil
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