quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

I - A colonização luso-africana no Brasil

Os três posts que se seguem são parte do texto que redigi, a pedido do Ministério da Cultura, para o Plano Nacional de Cultura, apresentado ao Congresso em dezembro de 2006.
'Na época do descobrimento do Brasil, Lisboa, ao lado de Sevilha, era a cidade européia que possuía a mais forte concentração de escravos negros. Nos anos 1550-1560, dentre os 100.000 habitantes que contava a capital portuguesa, havia perto de 10.000 escravos negros ou mulatos. Nos séculos XVI e XVII, desenvolve-se uma cultura luso-africana nas ilhas de Cabo Verde, São Tomé e de Madeira. Assim, os colonos que chegavam no Brasil vindos da Madeira e de São Tomé, e muitos saídos do próprio reino, já compartilhavam modos vida luso-africanos.
Escravos especializados e senhores que migravam de São Tomé ajudaram a implantar a cultura açucareira em Pernambuco e na Bahia. Conectado de início nos portos da Senegâmbia e do golfo da Guiné, o tráfico negreiro se concentra em Angola no século XVII. Por volta de 1600, o total dos desembarques no Brasil completava 50.000 africanos. A partir de então, os enclaves coloniais ganham uma feição luso-africana.
Ambrósio Fernandes Brandão, mercador em Goa e em Lisboa antes de viver na Paraíba, era um dos raros colonos do Brasil dotado de uma visão de conjunto do império português do Oriente e do Atlântico. No seu livro
Diálogos das Grandezas do Brasil, (1618), ele situa as particularidades da colônia sul-americana. Após uma digressão sobre os povos da África, um dos personagens diz o seguinte: “Não cuido [penso] que nos desviamos de nossa prática, que é tratar sómente das grandezas do Brasil, com nos meter em dar definição à matéria que tendes proposta [a origem dos povos negros]. Porquanto neste Brasil se há criado um novo Guiné com a grande multidão de escravos vindos dela que nêle se acham. Em tanto que, em algumas capitanias, há mais dêles que dos naturais da terra, e todos os homens que nele vivem tem metida quase tôda sua fazenda em semelhante mercadoria. Pelo que, havendo no Brasil tanta gente desta côr preta e cabelo retorcido, não nos desviamos de nossa prática em tratar dela ».
O Brasil é um novo Guiné. A afirmação sublinha o processo de repovoamento colonial. Outros estrangeiros, os africanos, substituem progressivamente os índios nos enclaves coloniais para construir a sociedade ultramarina. Embora submetidos à escravidão, os africanos são co-participantes, ao lado dos portugueses, da colonização do Brasil. Desde 1700, quando 610.000 escravos já haviam desembarcado, os africanos e os negros em geral, fixados nas zonas de maior atividade ecônomica, sobrepujam os colonos europeus e seus descedentes, como também os índios aldeados (concentrados nos aldeamentos controlados pelas autoridades).
A emergência de um polígono mineiro cobrindo o Mato Grosso, Goiás, Pernambuco (em território agora baiano), e centrado em Minas Gerais, muda a sociedade colonial. Este movimento de populações, de construção de caminhos e de pólos urbanos no interior, vincula-se às atividades de 1.700.000 africanos desembarcados no século XVIII. Atente-se para o fato de que o crescimento no interior, e a manutenção da agricultura comercial no litoral, só puderam ser levados a cabo simultâneamente por causa da intensificação do tráfico negreiro. Neste período, todas as regiões da América portuguesa, do Pará ao Rio Grande do Sul, estão conectadas ao comércio de escravos que envolve de novo a Guiné Bissau e se expande no gôlfo de Guiné e em Angola.

4 comentários:

Anônimo disse...

Os africanos civilizaram o Brasil?
essa é boa!

Anônimo disse...

É provável que o mínimo de doçura, existente na mestiça população brasileira, seja herança genética dos africanos.

Os europeus - da descoberta á colonização, só ocorrida de fato quando a família imperial mudou-se para cá - eram em sua maioria pessoas de índole má.
Os índios e os negros eram pessoas dóceis e puras.

Unknown disse...

Gostaria que vc fizesse uma pesquisa sobre o núcleo de colonização africana na cidade de Porto Belo (SC). Ainda hoje, há famílias descendentes dos primeiros quilombos que habitaram essa região. Um abraço! João Edson Fagundes

nicole nunes dias disse...

gostaria de saber alguma informação sobre a colonização africana na cidade de criciúma,seria muito interessante saber sobre isso....