quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

II - O Império e o complô dos seqüestradores

Com a transferência da Corte e a aceleração do processo político que levaria o país à Independência, o tráfico negreiro assume outro patamar. Às zonas africanas citadas acima, junta-se também Moçambique, de onde saem 250.000 escravos que desembarcam sobretudo no Rio de Janeiro. Perto de 1.700.000 africanos são trazidos para o Brasil na primeira metade do século XIX.
Outra característica da formação do Brasil terá sido o envolvimento direto de colonos do Brasil, numa primeira fase, e de brasileiros, depois de 1822, no comércio atlântico de africanos, e na pilhagem dos territórios africanos, principalmente no gôlfo do Benim e em Angola.
Governadores de Angola, oriundos do Rio de Janeiro, de Pernambuco e da Paraíba, levaram para a África Central, na segunda metade do século XVII, associados, soldados e comerciantes que expandiram a ocupação portuguesa e o tráfico de angolanos para o Brasil.
De 1831 a 1856, 710.000 africanos entram no Brasil num circuito de tráfico clandestino prescrito como pirataria pela legislação brasileira e pelo direito internacional. Além do mais, a lei de 1831, proibindo a importação de africanos, declarava livres os indivíduos introduzidos clandestinamente. Em consequência, o art. 179 do Código Penal considerava os proprietários destes escravos como sequestradores de pessoas livres. Posteriormente, em 1850 e 1854, o governo anistiou os proprietários culpados deste crime. Mas ocultou-se o fato que os 700.000 africanos chegados entre 1831 e 1850 -, e seus descendentes -, permaneciam ilegalmente na escravidão. Tirante a ação de alguns advogados e magistrados abolicionistas, o assunto ficará encoberto na segunda metade do século XIX e será praticamente esquecido pelas gerações vindouras.
Resta que este « Grande Complô dos Sequestradores » guarda um significado dramático : a quase totalidade dos indivíduos escravizados a partir dos anos 1840-1850 foi ilegalmente mantida na escravidão até 1888. Moralmente ilegítima, a escravidão do Segundo Reinado foi gerida por proprietários criminosos, graças à cumplicidade do Estado e da sociedade.

2 comentários:

Anônimo disse...

e quem sequestrou os caras na Africa para vender eles no Brasil?
não foram os africanos eles mesmo?

Anônimo disse...

Gostaria de obter maiores informações sobre a literatura que indica os locais de destino dos africanos clandestinamente enviados para o Brasil. O motivo é um levantamento para a criãção do Parque Arqueológico da Praia do Sahy, Mangaratiba, Brasil. Veja parquesahy.wordpress.com