sábado, 16 de dezembro de 2006

Oscar


Ontem, Oscar Niemeyer fez 99 anos. Salve ele! Em Brasília, nos anos 60, na Faculdade de Arquitetura da UNB, todo mundo o chamava só pelo nome: Oscar. Desde esta época, nós todos, estudantes, professores e funcionários, tínhamos muito respeito e muito carinho por ele.
Nos anos 70, na época em que morou em Paris, escorraçado pela ditadura brasileira, ele concebeu várias obras importantes, entre as quais a sede do Partido Comunista Francês (foto acima). Disse-me um amigo francês muito bem informado sobre o assunto, que Oscar nunca quis ser pago pelo trabalho feito para os companheiros do PCF. Nem mesmo quando o PCF quis oferecer-lhe um pequeno apartamento onde ele pudesse morar enquanto estivesse em Paris.

Sempre foi amigo e solidário com quem estava exilado aqui. Uma vez, ele marcou um encontro comigo num café dos Champs-Elysées. Saía de uma comissão que julgava projetos arquitetônicos destinados a serem construídos em Paris. Oscar estava meio irritado. As discussões entre os membros do júri, do qual ele fazia parte, haviam se prolongado além da medida e a decisão não lhe tinha agradado. Para ele, todos os projetos eram ruins. Contudo, os outros membros do júri forçaram a barra para aprovar um dos projetos, sob o argumento de que ele era bom “em certas partes”. Oscar absteve-se sem dizer nada. No café, explicou-me o motivo com o seu certeiro sotaque carioca: “Pô, quando um projeto é ruim, ele é todo ruim! Se tem partes boas, elas estão no lugar errado, então são ruins também, tudo é ruim!”
Nunca me esqueci disto. Na Universidade também acontecem destas coisas. Às vezes, a gente lê teses, artigos ou livros nos quais não dá para salvar nada. O trabalho foi mal concebido e está ruim do começo ao fim. Não tem nem conserto.

Mas este é o tipo de reflexão delicada sobre a qual não se pode citar nomes ou títulos, sob pena de atingir reputações.

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