sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Jornais boreais IV: croissants e marxismo



O International Herald Tribune publica hoje uma reportagem sobre as ligações entre Montargis, pequena cidade francesa situada a 100 kms ao sul de Paris, e alguns líderes da Revolução Chinesa. Nos anos 1920 -, Zhou Enlai (o segundo homem mais importante da China contemporânea e primeiro-ministro de 1949 até sua morte em 1976), Li Fuchun (o principal economista do Partido Comunista Chinês), Li Weihan (um dos comandantes da Grande Marcha e vice-presidente do Senado), Chen Yi (futuro chanceler), o grande romancista Ba Jin e Deng Xiaoping, que mandou no país entre 1981 e 2002 e transformou a China na mastodôntica potência econômica de hoje -, estudaram e trabalharam em Montargis. Na França, conheceram e apreciaram o marxismo e os croissants (que os chineses que preferem agora estudar nos EUA, chamam, como muitos americanos, de French donuts).
Passando batido sobre a influência dos operários e da esquerda francesa na politização dos futuros líderes chineses, o IHT insiste sobre o gôsto de Deng Xiaping e de Zhou Enlai pelos croissants. Enquanto o
Le Monde, numa reportagem de alguns meses atrás, menciona a importância da influência cultural francesa sobre os jovens chineses. E diz até que o Partido Comunista da China teve suas origens em Montargis.
Por traz da matéria do Le Monde há, talvez, a nostalgia do tempo sem retôrno em que muitos futuros líderes mundiais vinham estudar na França. Mas a reportagem do IHT mostra como este jornal piorou. Trata-se de uma matéria não assinada, requentada do artigo anterior do Le Monde e copiada da Associated Press. Sediado em Paris desde 1887, o IHT tinha redação própria. Em certa época, foi propriedade do Washington Post e do New York Times. Acho que foi seu melhor período. Alguns assuntos - como a crise do Watergate – eram cobertos com mais continuidade no IHT do que em qualquer jornal dos EUA. Depois o NYT comprou a parte do WP, desmontou a redação parisiense do IHT, transformando-o numa filial européia para reproduzir artigos da redação nova-iorquina. Agora é um jornal que ainda dá para ler de manhã, quando não se pode acessar o site do NYT. Mas não tem nada a ver com o que já foi.

3 comentários:

Anônimo disse...

caro:
Com imenso prazer volto a encontrar seus comentários. melhor ainda que seja em um blog. ele funcionará como caminho para tentar minha pretensão de conseguir sua reaproximação com o PT. sei que isso já foi tentando sem sucesso por pessoas melhores,com muito mais cacife e gabarito que eu. caso também falhe, restará um mínimo de diálogo -- que pode ter a mão única de minhas mensagens -- muito enriquecedor para mim. sabe por que, professor? porque você um dos poucos intelectuais que sabem pensar e escrever no Brasil (já lhe escrevi isso nos idos da « Veja »). digamos que é o acadêmico brasileiro que mais tem os pés em 68 mas a cabeça no século 21. e quer atuar publicamente.
Carlos

Anônimo disse...

Concordo em gênero, número e grau.

Milton Ohata

Anônimo disse...

Um dado bastante interessante em relação à influência da história francesa, na tradição comunista chinesa, ficou registrado em 1971: a China lançou 4 selos comemorando a "Comuna de Paris", enquanto a França não lançou selo algum a respeito desse crucial evento...

Renato Venancio