sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Arraes II

No Le Monde de 17/08/2005 publiquei um artigo, do qual traduzo trechos falando da “segunda vida” política de Miguel Arraes no exílio.
"Nascido em 1916, numa velha família do Nordeste do Brasil, Miguel Arraes cresceu no coração do sertão....Em 1959 torna-se prefeito de Recife. Três anos mais tarde, liderando uma frente de partidos de esquerda, ele é eleito governador de Pernambuco. Suas iniciativas desembocam no movimento de alfabetização popular e na instauração, pela primeira vez no Brasil, de um salário mínimo para os trabalhadores rurais... Nos preparativos para a eleição presidencial de 1965, ele aparece como um dos presidenciáveis dos movimentos de esquerda. Mas o golpe de 1964, quebra a ordem constitucional. Arraes é incarcerado numa caserna em Fernando de Noronha.
Na seqüência de um julgamento do STF, que ainda resistia à ditadura, e de uma campanha internacional da qual participaram, entre outros, François Mauriac e Graham Greene, Arraes é libertado em 1965. Ele deixa o Brasil e viaja para a Argélia, onde é recebido como exilado político.
Começa então a segunda vida de Miguel Arraes.

Acolhido com deferência pelo governo argelino, Arraes se aproxima dos dirigentes dos movimentos anticoloniais da África lusófona. Dividos em facções rivais, estes movimentos disputavam o acesso ao governo argelino e à Organisação de União Africana (homóloga à OEA). Arraes foi um dos que ajudaram o MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola) e o FRELIMO (Frente pela Libertação de Moçambique) a fortalecer suas relações políticas em Argel. Depois da Independência de Moçambique (1974) e de Angola (1975), Arraes foi recebido em Luanda e em Maputo com honras de chefe de Estado. Nesta época, ele também teve um real prestígio em Lisboa, participando em reuniões com os militares de esquerda que dirigiam Portugal após a Revolução dos cravos. Entrementes, a situação política brasileira se modificava, após a vitória obtida pelo MDB em 1974. Arraes viaja então frequemente para Paris, unindo os laços entre a esquerda francesa e a nova oposição que emergia no Brasil.
Com a anistia de 1979, ele retorna a Recife onde é acolhido num grande comício popular... Com a morte de Miguel Arraes, a esquerda brasileira perde um de seus líderes mais prestigiosos e um dos seus raros dirigentes a ter participado do movimento de independência das colônias portuguesas na África."

2 comentários:

Anônimo disse...

Uma referência biográfica digna de louvores a esse "cavaleiro da esperança", cearense, chamado Miguel Arraes.
A imprensa brasileira, professor, prefere publicar artigos sobre as novelas globais das sete e outras futricas mais, do que fazer uma referência dessa natureza a um homem que teve sua vida toda dedicada às lutas e conquistas sociais por onde passou.

Parabéns pelos seus artigos.

Carlos Medeiros.

Anônimo disse...

Poderia dizer alguma coisa sobre o afastamento entre Julião (Ligas Camponesas) e Arraes, sem motivo público claro, a ponto de o primeiro apoiar candidatura de José Múcio contra Arraes (na eleição para a 2ª governança, se não me engano)?
humberto.hpc@terra.com.br
ótimo conhecer esse blog !