Toni Morrison, a escritora negra americana que recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1993, está em Paris. Nomeada « curadora convidada », ela organiza no Museu do Louvre uma exposição em tôrno do tema « Estrangeiro na sua morada” (título mais próximo do francês ‘Etranger chez soi’, como no Le Monde do que do inglês ‘The Foreigner’s Home’, como no Herald Tribune). Seu grande romance, «Beloved» , vencedor do Pulitzer em 1988, inspirou o filme “Bem Amada”, de Jonatham Deme. No centro da narrativa estão as desgraças do escravismo nos EUA. Mais precisamente, o drama de uma escrava chamada Sethe. Em fuga no Kentucky com seus filhos, ela decide matar sua filhinha Beloved, para fazê-la escapar de vez da escravidão.No clássico sobre a economia colonial "Cultura e Opulência do Brasil"(1711), o jesuita Andreoni (Antonil) já assinalava atos similares. Mencionava, no final capítulo 9 de sua obra, as escravas que preferiam abortar para não dar à luz uma criança escrava - «algumas escravas procuram de propósito aborto, só para que não cheguem os filhos de suas entranhas a padecer o que elas padecem ». Toquei neste assunto para confrontá-lo aos outros textos postados aqui sobre o escravismo brasileiro, Zumbi e o Dia da Consciência Negra.
No fundo, penso que a comemoração de Zumbi dos Palmares não deveria ocultar todos os outros atos solitários e heróicos, corajosos ou simplesmente obstinados (como o dos escravos que voluntariamente se machucavam ou se contaminavam com o bicho-do-pé para não trabalhar), marcando a resistência negra ao escravismo luso-brasileiro.
2 comentários:
Oh Alencastro, olha o besteirol sobre Zumbi
Alfredo
Caro Prof. Alencastro.
Admiro sua obra e recomendo seu livro nos cursos que ofereço. Essa questão da memória da resistência escrava nos leva ao problema do ensino da escravidão. Creio que mal começamos a pensar seriamente sobre isso. Entre o herói e a vítima, a pesquisa revela o escravo humano desejoso de sobreviver.
Cordialmente
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