quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Zumbi dos Palmares III


A respeito de Zumbi, retomo uma reflexão sobre Palmares.
Nos Descobrimentos, a bebida preferida dos povos da África Central era o malafo, que os portugueses denominaram “vinho de palma”. Extraído de diversos tipos de palmeiras, entre as quais o dendezeiro, o malafo conhecia grande demanda como bem de consumo, de troca e de cerimonial (atualmente, em Angola o vinho de palma é também conhecido como malabo, malavo, malufo e, sobretudo, marufo).
Guerras dos jágas e dos preadores europeus desorganizam a cultura e o trato de malafo desde o final do século XVI. O inglês Andrew Battel conta que os ambundos e os povos sedentários de Angola tinham o cuidado de extrair a seiva das palmeiras sem cortá-las, preservando os palmeirais. Ao passo que os jágas derrubavam as palmeiras para fazer malafo, destruindo as plantações à medida que avançavam. De seu lado, em represália aos sobas recalcitrantes, os portugueses costumavam cortar os palmeirais das aldeias atacadas.
Além do malafo, a palmeira-dendê, denominada por Cadornega de “rainha das árvores”, fornecia aos nativos do Congo e de Angola o coquinho (do qual se fazia a farinha emba), o vinagre e o azeite alimentar, os ungüentos medicinais, o sabão, as estacas para as casas, as fibras para tecidos e cordas. Representando a perda do poder social e econômico dos sobados, a derrubada dos palmares constituía para os ambundos um desastre de grandes proporções. Na fieira dos documentos ressai uma frase enfatizando as conseqüências nefastas da perda dos dendezeiros e do fabrico de malafo: os ambundos sofrem mais com a perda dos palmares do que com a captura ou a morte de seus próprios filhos.

Um comentário:

Anônimo disse...

quer dizer que com o dendê deu pra fazer tudo?