quinta-feira, 20 de março de 2008

A Rede e o Nada

Capa da edição de 1883 de Les Travailleurs de la Mer, de Victor Hugo
Paulo Henrique Amorim é meu amigo há muito tempo. Mas não é por isso que escrevo aqui. Penso, de fato, que a ruptura de seu contrato no Ig é exemplar para demonstrar como a rede também pode abrir a via à regressão política e cultural. Visivelmente, os posts e as entrevistas que Paulo Henrique Amorim fazia não agradavam gente muito poderosa. Por esta ou por outra razão que o Ig não se dignou a explicar aos internautas, aos colaboradores do seu portal e ao público (o argumento dado: a falta de rentabilidade do site de PHA é grotesco: os outros sites que ficaram têm mais internautas-leitores do que o dele???), seu sítio foi bruscamente tirado do ar.
A maior parte de seus posts e de suas entrevistas com líderes políticos, altos funcionários e personalidades diversas foram seqüestradas e podem ser destruídas pelo Ig. Este é o problema de fundo: os posts e os sítios podem desaparecer definitivamente. Noutro registro, o triste fechamento do Nomínimo, do qual fui colaborador, como do No antes dele, acabou fazendo desaparecer todo o rico material jornalístico que ele continha. No que me concerne perdi para sempre os meus textos, embora eles tivessem continuado a ser acessíveis muito tempo depois do fechamento do Nominino. Causado, como se sabe, pela falta de fontes de publicidade que torna vulnerável o jornalismo eletrônico no Brasil.
O caso de PHA é muitíssimo mais grave e constitui um verdadeiro atentado à liberdade de imprensa e à propriedade intelectuel. PHA não teve a oportunidade de redirecionar seus leitores e os internautas para o seu
novo sítio, nem de recuperar seu trabalho jornalístico. No século passado e retrasado, quando os autoritários e os truculentos mandavam empastelar as redações dos jornais que não lhes convinham, ainda dava para recuperar os exemplares antigos e reimprimir a publicação. Como sabem os pesquisadores e os historiadores, mesmo o regime mais ditatorial ou o país mais desleixado não consegue fazer desaparecer os jornais antigos. Estes acabam sendo preservados, na pior das hipóteses, na documentação consular e nas bibliotecas de outros países. Agora some tudo num piscar de olhos. Que PHA tenha podido recuperar parte de seu acervo para abrir logo um outro sítio (antes os empastaledos também podiam reabrir outro jornal) não diminui em nada a malignidade do ato de que ele foi vítima.

7 comentários:

Anônimo disse...

É o velho achatamento do Pensamento no mercado.

Claudia disse...

Caro Luiz Felipe,

O PHA não é a única vítima nesta história. Somos todos vítimas. O nosso futuro. Fontes de informação se vão sem aviso prévio nem respeito. Perde-se informação para sempre todos os dia na internet. Isso mostra que temos acessos mais democráticos mas tudo é ainda muito frágil. Precisamos desenvolver formas de proteção para garantir a preservação das informações divulgadas apenas eletronicamente do contrário vai ficar difícil escrever o futuro sem estas preciosas fontes.

Abraço.

Claudia

Anônimo disse...

Luiz Felipe,

A internet é um ambiente novo! Recomenda-se, apenas, que se faça back-up de todo o material publicado, preservando-o em servidores estrangeiros e mesmo off-line em computadores pessoais. O fato que é que grandes portais, como o IG, seguem a mesma lógica de grandes empresas. PHA não precisa mais do IG graças a internet. Neste ponto, o internet é um diferencial. E ele já garantiu, judicilamente, a recuperação de todo seu acervo nos servidores do IG...

Anônimo disse...

QUE COISA,HEIN?,DOM FELIPE,,PRECISANDO DE QUALQUER COISA É SÓ PEDIR,TERÁS TODO O MEU APOIO.
BJUS.
HELENA

Anibal disse...

Já escrevi ao próprio Paulo Henrique Amorim, solidarizando-me. Escrevi ao ombudsman do iG, reclamando. Onde encontro alguma coisa a respeito na Internet, compareço para repudiar a forma com que o iG rompeu com o Paulo Henrique Amorim.

Espero que o iG continue indo direto e reto para o buraco.

Anônimo disse...

E tem gente que arrota democracia virtual quando fala de internet.

Unknown disse...

E tem gente que arrota democracia virtual quando fala de internet(02).

A China, Cuba bloqueiam determinados sites ou blogs. Aqui no Brasil eles fazem a mesma coisa mas de modo mais "racional" ou "gentil".

Não sou muito fã do PHA mas algo estranho aconteceu nesta história....

abraço!