quarta-feira, 6 de junho de 2007

Paredes de Paris


Vi a dica em Manhattan, de Woody Allen, e passei ao ato em N.Y., e sobretudo em Paris desde a época do filme, 1979 : é legal olhar para a parte de cima dos prédios, para os 3°, 4°, 5° andares que a gente nunca observa quando anda na rua. Este prédio na praça da Bastilha, bem na frente do ponto do ônibus que tomo todo dia para ir à Universidade, tem uma marca única: um furo de bala feito nos combates do 14 de julho de 1789 (do lado direito da foto). Pouca gente saca este buraquinho revolucionário. Provávelmente, um tiro de um soldado monarquista contra um insurreto tocaiado no prédio (na pedra está gravado: "souvenir 14 juillet 1789", a grafia dos números leva jeito de ser do começo do século XIX).
Acho que Revolução pra valer na época moderna, só teve três: a Revolução Americana (1776), a Francesa (aqui da foto, em 1789) e a do Haití (1791). Todas as outras, inclusive as das independências latino-americanas – conduzidas por Bolívar, San Martin, Tiradentes ou D. Pedro I (conforme o gosto) -, pegaram carona nas duas primeiras. A do Haití também pegou, mas virou o jogo de outro jeito.
Volto ao assunto mais adiante, quando começar o oba-oba em torno dos festejos dos 200 anos da chegada da Corte no Rio de Janeiro.
P.S. – Em resposta aos comentários de Macfa e Ricardo, lembro que me referi aqui à periodização utilizada na França e em alguns outros países: a época moderna acaba com estas Revoluções que liquidam o Antigo Regime. O período que vem em seguida, dominado pelas forças em gestação no período anterior: capitalismo, burguesia e Estado-nação, é o período da história contemporânea: as Revoluções de 1848, a do México, a Russa, a Chinesa e a Cubana são revoluções da época contemporânea. é outro papo. Concordo que esta divisão pode ser questionada no Brasil e nas Américas e não tem nada a ver noutras partes do mundo.

4 comentários:

Anônimo disse...

como o Sr. deve saber, aqui em São Paulo, uma lei aplicada recentemente tem tirado toda a maquiagem-tralha-propagandistica da cidade (com aplausos e protestos). Placas exageradas, out-doors em lugares inapropriados, lambris de metal, tudo que escondia a feiúra da cidade dos olhos dos passantes-cidadãos. Como São Paulo é feia! Apesar da melancolia triste das fachadas subitamente desnudadas, no meio disso tudo, há sinais como um solitário "1926" ou frisos antigos feitos pela mão de algum imigrante-artesão italiano que por sua vez reproduziu um modelo surrado europeu. Ao contrário do Rio, onde placas aqui e ali referem-se a algum morador ilustre (p. ex., Tom Jobim, na rua Nascimento Silva 107; ou o mesmo personagem, desta vez como habituê, no Bar Vilariño em frente à Academia Brasileira), em São Paulo - cidade que periodicamente esquece o passado mais imediato - esses elementos perdidos são os únicos signos da memória urbana.

Anônimo disse...

bem, professor, os marxistas não vão gostar de saber que a revolução de 1848 cai fora das revoluções top de linha.Legal a sua citação do Haiti. Aliás, você já leu a biografia do Toussaint Louverture, escrita pelo Madison Smart Bell? Abraço.

Marco Antonio disse...

Professor parabens pela sua lembrança a Revolução Haitiana. Agora me diga pq a de 1848 esta fora da sua lista? E a Revolução Russa? É pós-moderna?

Anônimo disse...

pois é, mas sem querer dar o braço a torcer, assim mesmo teríamos que pensar na Revolução Gloriosa , talvez a mais importante de todas. De qualquer forma, entendo o seu ponto de vista. E o destaque da Revolução Haitiana, quase nunca citada ( de tão desconhecida).Abração.