quarta-feira, 16 de maio de 2007

Olhar devagar: arma de dois gumes

Foto:Vivi Zanatta, da Agência Estado, publicada no portal G1
O que deu na telha de Serra para ele tomar uma pose destas? O governador de São Paulo é um homem pacífico, revoltado com a violência criminosa que atormenta seu estado e o país. Para que então pegar neste trabuco que, mais cedo ou mais tarde, vai matar alguém num morro, numa favela, em pleno sol do meio-dia, no começo de uma madrugada ? Nenhum de seus conselheiros pressentiu que uma pessoa de terno cinza e gravata (ainda mais com as olheiras que ele tem), com uma arma destas na mão, fica parecendo um gangster de opereta, de filme dos anos 50? Não deu outra. Na foto, Serra leva jeito de gangster portenho.
Homem público de bom senso não aparece -, ainda mais apontando para os fotógrafos -, com uma arma mão. Nem com cartucheira de atirar em pratos. Numa foto célebre de 1940, Churchill de charutão na boca, em visita à Home Guard britânica, empunhou uma metralhadora. Mas era um recado para os nazistas que planejavam invadir a Inglaterra. Todo mundo entendeu assim e Churchill virou estátua.
O ar bonachão de Serra, em vez de amortecer o efeito agressivo da foto, toma um tom zombeteiro que pode ser – e será - mal interpretado.
Anos atrás, quando se falava pela milésima vez que a execução de criminosos era a única solução para a violência no Brasil, Serra, então deputado federal, escreveu na Folha um artigo contundente contra a pena de morte. Mandei um telegrama (já havia fax mas ainda não havia emails) para cumprimentá-lo. Acho que foi a única vez na vida que fiz isso de mandar mensagens para cumprimentar um político.
Talvez, numa hora dessas, em tempos de violência brutal, Serra devesse escrever de novo -, agora com todo o seu peso de governador de São Paulo e de presidenciável -, contra a pena de morte. Seria bom para o país. E ninguém iria ter idéia de jerico vendo esta foto.

8 comentários:

Anônimo disse...

Salve, professor...Hehehe!
Que bela foto!
Pessoas publicas e "inteligentes" também caem nos truques fotojornalísticos.

Aconteceu por exemplo com a primeira dama, no primeiro ano de governo Lula. Eles inclusive ajudaram na escolha dos vestidos e da maquilagem e ela coitada, na sua simplicidade, crente que estava abafando, que teria um dia de princesa, foi completamente chacoalhada na revista Veja.

Esses cara são de lascar...

Anônimo disse...

Recebi o seu post em mensagem coletiva do Credibilidade Ética. De que Brasil quase escapamos!
Deixo-lhe um convite para ver um texto sobre o covarde assassinato de Jean Charles de Menezes, em http://urarianoms.blog.uol.com.br/
Abraço pernambucano.

Anônimo disse...

Professor,

Acho que aquele José Serra do artigo contra a pena de morte já não existe mais. Ele foi morto por esse outro Zé Serra, de garrucha em mãos.

angel disse...

Parece da natureza dos tucanos esquecer o que escreveram e pensaram. Triste...

Anônimo disse...

Olá
José Serra faz qualquer coisa para chegar a presidente. A principal preocupação da burguesia paulista hoje é a violência (e não as causas), e a solução pregada por essa burguesia continua sendo o "prende e arrebenta". Para mim Serra está é mandando um recado que vai sim fazer um governo linha-dura com "vagabundo".
Sugiro que antes ele conte para o povo porque ele mentia dizendo que tinha quebrado a patente dos remédios de AIDS, quando ministro.
Abraços,
Tiago

Anônimo disse...

Aos freqüentadores deste espaço, recomendo vivamente a leitura da coluna de Jânio de Freitas na Folha de S. Paulo de ontem. O ponto é: Collor criou um padrão de comportamento público seguido por todos os presidentes ou presidenciáveis que vieram depois.

Anônimo disse...

Para alguém que, como eu, é contra a pena de morte e votou Sim no Referendo 2005, pelo desarmamaneto, pela proibição do comércio de armas de fogo e munição, é realmente triste ver essa foto. (E ainda estou digerindo o Não que veio das urnas). Indago-me: "O que é ser conselheiro de um homem no poder?", ou, simplesmente, "O que é ser um homem no poder, hoje, no Brasil?"

Dourivan Lima disse...

Mais rapidamente que a arma matar alguém, era de se esperar que a foto fosse devidamente arquivada para uso eleitoral.