Vivemos numa época extraordinária!
Um dia após o presidente da República saudar os usineiros como « heróis nacionais e mundiais », agentes da salvação da lavoura e do planeta, uma blitz do Ministério do Trabalho descobre cortadores de cana submetidos a uma situação sub-humana numa grande usina paulista. De quebra, o procurador Luís Henrique Rafael, do Ministério Público do Trabalho, disse que esta situação é comum em São Paulo, estado de onde sai 60% da produção nacional de etanol. Dias antes, o ministro do Trabalho tentou moderar a barra dos usineiros, burladores contumazes da legislação trabalhista, dizendo : “são situações residuais, porém inaceitáveis ». E advertiu « "Os empresários brasileiros precisam ficar atentos: qualquer repercussão negativa no mercado de trabalho poderá significar restrições para exportações de nossos produtos ».
Tudo isso porque o The Guardian falou do estatuto de quase “escravos” em que viviam os cortadores de cana no Brasil. Acusação imediatamente rebatida pelo embaixador brasileiro em Londres.
Vem logo à cabeça o paralelo com a pauleira internacional -, e as cacetadas da imprensa inglesa -, que o Brasil enfrentou entre 1831 e 1850 quando era o único país independente praticando a pirataria negreira . Durante algum tempo, o açúcar brasileiro foi sobretaxado nas alfândegas britânicas porque era « slave-grown sugar » (cultivado por escravos), e não o « free-grown sugar » (produzido por lavradores livres). O assunto era polêmico na própria Inglaterra, mas acabou levando o Brasil a extinguir o tráfico negreiro em 1850. O chanceler Amorim deve ter se lembrado disto tudo porque, segundo consta, o assunto é estudado no Instituto Rio Branco.
A frase chave do entrevero foi proferida pelo então chanceler inglês, Lord Palmerston, em 1848, na CPI sobre o tráfico negreiro no Parlamento de Londres: « No Brasil, a quantidade de terras que podem ser cultivadas se houver uma oferta ilimitada de trabalho, é incalculável. É um grande equívoco acreditar que o temor de tumultos sociais pode levar os brasileiros a reduzir a importação de escravos africanos. Tais perigos só teriam efeito quando atingissem uma dimensão capaz de fazer o governo brasileiro reagir. No meio tempo, nossa produção de açúcar das Antilhas [britânicas] já teria sofrido o impacto do enorme aumento da produção de açúcar brasileira ».Ou seja, os ingleses achavam que se deixassem o Brasil produzir açúcar barato, de qualquer jeito, com o braço africano, decretavam a falência de seus canaviais na Jamaica, onde a escravidão já havia sido abolida.
Não era só por filantropia que eles se opunham ao tráfico negreiro. Mas sua ação ajudou a acabar com esta barbaridade em nosso país. O ministro Luiz Marinho, líder sindical e proeminência petista, poderia lembrar este precedente histórico aos usineiros.
Um dia após o presidente da República saudar os usineiros como « heróis nacionais e mundiais », agentes da salvação da lavoura e do planeta, uma blitz do Ministério do Trabalho descobre cortadores de cana submetidos a uma situação sub-humana numa grande usina paulista. De quebra, o procurador Luís Henrique Rafael, do Ministério Público do Trabalho, disse que esta situação é comum em São Paulo, estado de onde sai 60% da produção nacional de etanol. Dias antes, o ministro do Trabalho tentou moderar a barra dos usineiros, burladores contumazes da legislação trabalhista, dizendo : “são situações residuais, porém inaceitáveis ». E advertiu « "Os empresários brasileiros precisam ficar atentos: qualquer repercussão negativa no mercado de trabalho poderá significar restrições para exportações de nossos produtos ».
Tudo isso porque o The Guardian falou do estatuto de quase “escravos” em que viviam os cortadores de cana no Brasil. Acusação imediatamente rebatida pelo embaixador brasileiro em Londres.
Vem logo à cabeça o paralelo com a pauleira internacional -, e as cacetadas da imprensa inglesa -, que o Brasil enfrentou entre 1831 e 1850 quando era o único país independente praticando a pirataria negreira . Durante algum tempo, o açúcar brasileiro foi sobretaxado nas alfândegas britânicas porque era « slave-grown sugar » (cultivado por escravos), e não o « free-grown sugar » (produzido por lavradores livres). O assunto era polêmico na própria Inglaterra, mas acabou levando o Brasil a extinguir o tráfico negreiro em 1850. O chanceler Amorim deve ter se lembrado disto tudo porque, segundo consta, o assunto é estudado no Instituto Rio Branco.
A frase chave do entrevero foi proferida pelo então chanceler inglês, Lord Palmerston, em 1848, na CPI sobre o tráfico negreiro no Parlamento de Londres: « No Brasil, a quantidade de terras que podem ser cultivadas se houver uma oferta ilimitada de trabalho, é incalculável. É um grande equívoco acreditar que o temor de tumultos sociais pode levar os brasileiros a reduzir a importação de escravos africanos. Tais perigos só teriam efeito quando atingissem uma dimensão capaz de fazer o governo brasileiro reagir. No meio tempo, nossa produção de açúcar das Antilhas [britânicas] já teria sofrido o impacto do enorme aumento da produção de açúcar brasileira ».Ou seja, os ingleses achavam que se deixassem o Brasil produzir açúcar barato, de qualquer jeito, com o braço africano, decretavam a falência de seus canaviais na Jamaica, onde a escravidão já havia sido abolida.
Não era só por filantropia que eles se opunham ao tráfico negreiro. Mas sua ação ajudou a acabar com esta barbaridade em nosso país. O ministro Luiz Marinho, líder sindical e proeminência petista, poderia lembrar este precedente histórico aos usineiros.
5 comentários:
Essa é uma oportunidade para se normatizar e civilizar as relações de trabalho no campo. Se os usineiros não forem obrigados/forçados a isso, poderão abrir um flanco para restrições trabalhistas ao etanol brasileiro no comércio global. Nesse caso, os plantadores de milho (EUA)e de beterraba (UE)agradeceriam.
O resultado da mecanização da produção canavieira seria óbvio: a utilização de mão-de-obra intensiva na na produção e colheita ficaria menos rentável.
A mecanização das lavouras de cana resultaria no desemprego de 1 milhão de cortadores de cana no Brasil.
Daí viria a gritaria geral contra a mecanização destruidora do emprego rural.
Sobre essa gritaria que parece que vai acontecer, já vou dando a minha opinião: a melhor forma de garantir o emprego no campo é o investimento na agricultura familiar e a Reforma Agrária.
Não devemos investir no canavial como provedor de postos de trabalho insalubres, mas sim distribuir terras para os cortadores de cana.
É isso, o Brasil é paradoxal: dá para expandir a cana e a Reforma Agrária ao mesmo tempo. Não apenas dá para fazer, acho que vai ser necessário fazer.
As nossas condições naturais e estratégicas exigem que não fiquemos atados ao pensamento binário (cana ou Reforma Agrária).
A solução está na cana, na mecanização da cana, na Reforma Agrária, nos sistemas agroindustriais, no gerenciamento florestal, etc.
Os usineiros são os nossos Cidadãos Kane da sugarcane?
Olá prof.,
Em primeiro lugar, parabéns pelo blog, sou fã.
Meu nome é Rafael Evangelista e sou editor da revista ComCiência (www.comciencia.br), publicação do Labjor/Unicamp e da SBPC.
Em abril vamos publicar um especial sobre álcool e, lendo seus últimos posts, fiquei pensando que isso poderia render um artigo jornalístico sobre o tema.
O sr. não aceitaria colocar esses comentários em um pequeno artigo para nós? Se puder, por favor, escreva para mim em rafael @ comciencia.br
Aos amigos do Seqüências Parisienses, estamos felizes, dia 26 de março, estaremos completando 1 (um) ano da existência do blog Desabafo País, que no início era chamado 'Desabafo Brasil' e tinha seu ponto alto a Política, hoje falamos de tudo. Agradecemos aos 154.788 acessos vindo de todo recanto do Brasil e também dos seguintes países: Espanha, Canadá, Portugal, Estados Unidos, Bélgica, Itália, Inglaterra, Republica Dominicana, Alemanha, Argentina, Índia, China, Austrália, Japão, França, Chile, Hungria, Polônia, Suécia, Israel, Noruega, Suíça, Bolívia, Holanda, México, Venezuela, Irlanda, El Salvador, Angola, Indonésia, Nova Zelândia, Uruguai. Obrigado, obrigado, obrigado. Daniel Pearl e Blanchard Girão.Endereço: http://desabafopais.blogspot.com/
Caro Professor Alencastro:
O link abaixo remete a uma matéria veícula no sítio do Instituto de Economia Agrícola de SP, revelando a preocupação de especialistas com a expansão descomedida da lavoura canavieira.
http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=8905
Meu abraço fraterno.
Postar um comentário