sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Olhares europeus


No novo Museu do Quai Branly, instalado à beira do Sena no belo prédio de Jean Nouvel, há uma exposição muito interessante intitulada D’un regard l'autre (frase em estilo indireto que poderia ser traduzida por “O olhar que vê o outro”). O tema é o olhar dos europeus sobre os povos africanos, asiáticos e americanos. Sem entrar nas controvérsias que marcaram a inauguração do Museu (uma colher carajá feita de madeira é um objeto de arte ou sómente um objeto do cotidiano de uma cultura?), vale a pena observar o sucesso que o Museu está tendo entre imigrantes e franceses oriundos de culturas não européias.
Nas várias partes da exposição que nos concernem, uma tem especial destaque: os quadros que
Eckhout pintou ou concebeu enquanto esteve em Recife com Maurício de Nassau, no período 1637-1644. O vídeo da exposição mostra logo de saída os 8 grandes quadros representando os tipos humanos vivendo em Pernambuco na época.
É interessante observar também a diferença dos pontos de vista europeus sobre a presença holandesa no Brasil.
Em 2004, nos 400 anos do nascimento de Maurício Nassau, houve, em Siegen (Alemanha), cidade de nascimento de Nassau, um congresso sobre sua vida e sua obra.
Deu para constatar algumas nuances de interpretação entre os especialistas alemães e holandeses, como também entre o público presente em Siegen. Espero escrever sobre isso mais tarde. Talvez quando sair o livro com as comunicações do congresso.
De uma maneira geral, os alemães sublinhavam o papel de Nassau no seu próprio país, na defesa dos protestantes de sua região natal, inseguros depois da conversão de seu irmão mais velho ao catolicismo. Foram ainda acentuadas suas atividades na reconstrução e no embelezamento da cidade alemã de
Cléves (Kleve), da qual foi governador.
Desta forma, afirmou-se o germanismo de Nassau, frente à interpretação dominante que o reduz ao papel de empregado dos holandeses da W.I.C., a Companhia das Índias Ocidentais. Tratava-se de salientar sua qualidade de príncipe humanista alemão.
Por isso, algumas pessoas no público ficaram surpreendidas ao saber que o humanismo de Nassau incluia o desenvolvimento da escravidão e do tráfico negreiro, praticados a partir daquela época pelos holandeses.
Toquei neste ponto no comentário sobre o Congresso publicado no sítio nomínimo (a maioria dos links inseridos no texto já foi para o espaço).

Um comentário:

Anônimo disse...

As pinturas são massa!