The Economist desta semana reserva seu editorial e seu artigo central à ONU. Na altura em que o sul-coreano Ban Ki-moon assume a direção da ONU, a melhor e mais bem escrita revista do mundo, faz um balanço da instituição.
No editorial, The Economist apóia a entrada da Alemanha, do Brasil, do Japão e da Índia e de “um país africano”, como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
A proposta é idêntica àquela defendida pelo chanceler Celso Amorim no quadro do G-4, que reunia os 4 países citados e a África do Sul.
Iniciativa que entrou em banho-maria em 2006. O motivo foi a oposição suscitada por países rivais (Itália, Argentina, China, Paquistão), e a divisão dos países africanos na escolha de seu candidato.
Pesou ainda a campanha anti-ONU dos neoconservadores e do governo Bush.
Com a entrada de Ban Ki-moon, o retorno dos EUA a um certo multilateralismo e a existência de um melhor entendimento entre as grandes potências, a reforma do Conselho de Segurança volta à ordem do dia. É o que sugere The Economist.
A idéia da entrada do país no CS da ONU e a generalidade da política externa do governo Lula, tem sido objeto de escárnio e vitupério nas fileiras da oposição e na maior parte da mídia brasileira.
No momento em que uma das mais influentes revistas mundiais decide endossá-la, seria interessante ouvir a reação dos seus detratores letrados e menos letrados.
Por enquanto, a única notícia sobre o assunto que li na imprensa brasileira foi o resumo da BBC Brasil publicado ontem no Folhaonline e na Agência Estado, e aparentemente retomado no Estadão de hoje (ao qual não tenho acesso).
P.S. – A ministra do exterior do Reino Unido, Margaret Becket, oficializou , no dia 16 de janeiro, a posição expressa no editorial do The Economist há dez dias: Londres apóia a entrada do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Katrin Bennhold no seu artigo tratando da Conferência de Davos no Herald Tribune de 24/01/2007, afirma que há um consenso entre a maioria dos países sobre o fato de que Índia, o Brasil e o Japão devem entrar no Conselho de Segurança da ONU.
5 comentários:
Eu sou mais pessimista. Acho que mesmo com essa euforia toda e ainda com a aprovação da entrada desses países ao CS da ONU acho q o mundo não sairia "safer". As políticas dos grandes não se curvarão aos pequenos, pequeniníssimos que mal tem voz. Pensem nos africanoslá do centrão... É triste.
"...a melhor e mais bem escrita revista do mundo...". Estou em choque! é dificil acreditar que isso tenha saido da sua pena.
Agora é provável que se retratem, pois ninguém aqui vai contestar The Economist, mesmo que concorde com o governo Lula. Abs
Não entendi a divisão entre “detratores letrados e menos letrados”. Mas, no caso do governo Lula, podemos endereçar o “menos letrado” diretamente ao presidente da República e boa parte de seus companheiros. E não é por esse lado que vamos julgar sua política externa.
Juntar a entrada do país no Conselho de Segurança com a política externa do governo Lula também não ajuda a entender aqueles que são contrários á vários elementos da política externa do governo Lula, mas, de modo algum, são contrários à ampliação do CS– e é isso de que se trata, uma ampliação e não apenas a entrada do Brasil. É certo que tem o pessoal da guerra eleitoral permanente, gente que é contra qualquer coisa que venha aparentemente beneficiar o governo. É bom lembrar que a política de guerra eleitoral permanente é feita também por partidários de Lula – além do próprio.
Pode até ter vindo “escárnio” do pessoal da guerra eleitoral permanente, mas vi análises bem equilibradas que não dão crédito à possibilidade da entrada do Brasil no CS, onde não havia “escárnio”, mas uma postura realista diante do assunto.
Vimos também muitos aplausos à política externa do governo Lula. Em seu programa político no horário eleitoral, por exemplo, Lula discursou na ONU e foi aplaudido de pé. Depois foi revelado que seus marqueteiros fizeram uma “trucagem” marota. Os aplausos, na verdade, eram para Kofi Annan. Lula estava lá na ONU e não viu os aplausos; também certamente viu o programa – ou ao menos foi avisado – antes dele ir ao ar. E a cena do aplauso que não houve ficou. Lula é assim. Nunca sabe, nunca viu.
A postura leniente com o governo Chávez, o voto em relação aos crimes no Sudão, a relação de “amigo de Fidel Castro”, “amigo de Kadhafi”, “amigo de Morales” e “amigo” de tantos mais, esses entre tantos outros assuntos recentes mostram que há muito para ser discutido em nossas relações exteriores. Acresça-se o problema da falta de uma política séria em relação à ecologia e a conseqüente ausência do Brasil na busca de soluções para este que é o mais sério problema mundial e teremos toda a razão para se opor a este governo.
O artigo da “Economist” pode até ser o sintoma de alguma mudança de direção da ONU em relação á esta questão. O Brasil pode até passar a fazer parte do conselho. Mas não acho que pessoas sérias mudarão de opinião quanto à política externa do governo Lula. O que pode ocorrer é que, aumentada a responsabilidade do país, o ministério das Relações Exteriores possa influenciar o presidente da República para que ele seja menos leviano diante dos problemas mundiais.
Se não me engano, a ministra britânica deixou escapar que a entrada estaria submetida à necessidade do Brasil adotar certos compromissos e responsabilidades, o que, como sabemos, o Brasil não tem capacidade. Se o Haiti já nos esgota e nossa diplomacia tem que fazer das tripas coração para se manter, como entrar para um CS?
Convenhamos, a conversa de Tony Blair é mais jogo prá galera, ou uma banana jogada no meio do caminho da Rodada Doha.
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