sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Memórias do século passado


Saiu hoje na Folha de São Paulo um artigo meu sobre a eventual entrada de Delfim Netto no governo do segundo mandato de Lula. Estava há algum tempo com este artigo entalado na ponta dos dedos e tinha falado sobre o assunto em palestras feitas em agôsto e setembro, no Rio, em Curitiba, em São Paulo e em Belo Horizonte, no ciclo "Esquecimento e Memória", organizado por Adauto Novaes. Na altura, houve uma reportagem sobre a palestra na Maison de France, no Rio.
Memórias do século passado
- Eventual ascensão de Delfim Netto ao governo Lula seria flagrante traição política, um acinte a uma parte dos que combateram a ditadura -

NO NOTICIÁRIO sobre o novo governo, um nome aparece freqüentemente: Delfim Netto. Ungido por consagradora reeleição e índice de aprovação jamais igualados, Lula deve pensar que pode nomear quem quiser em qualquer lugar. Assim, com a admiração unânime dos povos e aplauso geral da nação, Delfim Netto poderá ser novamente alçado a um ministério. Desta vez, num governo presidido pelo PT. A eventualidade dessa nomeação suscitou alguns sarcasmos e perplexidades. Fernando Henrique, após classificar Delfim Netto de "algoz da ditadura", ironizou a nova amizade entre o ex-ministro e Lula. Mas suas palavras fariam mais sentido se ele próprio não tivesse nomeado Pratini de Moraes -também integrante do governo do sinistro ditador Médici- no seu segundo mandato na Presidência e não tivesse introduzido Jarbas Passarinho, também estadista do AI-5, no conselho político de sua campanha de reeleição, em 1998..."

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8 comentários:

Anônimo disse...

Luiz Felipe (permita-me a intimidade),
Em 1983, era bancario e fiz greve contra o decreto-lei 2045. Nao tenho, portanto, a menor simpatia pelo Delfim Netto (que, por sinal, revelou-se - postumamente - um perspicaz analista politico).
Tambem nao vejo com simpatia a convivencia harmoniosa entre a Conceiçao e o Belluzzo com o Delfim. Mas essa convivencia revela uma mudança no assim chamado campo dos economistas: os velhos desenvolvimentistas se reagruparam para oferecer alguma resistencia - ao menos retorica - aos neoliberais/rentiers da PUCRJ.
Na atual configuraçao deste campo, Delfim Netto esta a esquerda da finance (e obviamente sempre a direita dos trabalhadores).

Anônimo disse...

Luis Felipe,
Quero te parabenizar pelo artigo. Você escreveu exatamente o que eu penso sobre a entrada do "gordo" no governo Lula, aliás, o Delfim Netto parece não se preocupar muito com a História, nem com a fidelidade partidária, pois está hoje no PMDB, partido que, embora tenha se transformado em um poço de fisiologismo, teve um histórico de combate a ditadura, no começo de sua história.
Meus parabéns novamente,Professor Luis Felipe!

Anônimo disse...

Caro Professor Alencastro:
A possibilidade de uma parceria Lula X Delfim é de causar medo, seja pela traição abordada no artigo, seja pelas já conhecidas idéias de Delfim.
Só faltava nosso presidente ressuscitar o Gobery e nomeá-lo para a Casa Civil.
É de um maquiavelismo ímpar.
Mas em matéria de traição, nada mais expressivo que o lulismo, sobretudo em relação os militantes da base do PT.
E eu que já tinha me assustado com FHC professando fé ao liberalismo e mandando esquecer seus escritos.
Que outro absurdo o futuro nos reserva?

Anônimo disse...

Sinceramente o artigo de Alencastro é ridículo. Delfim Netto nunca foi acusado de não é nenhum criminoso. Foi Ministro em governos militares como o foram várias pessoas no Brasil. E é só.
Querer que a participação em um governo entre 1964 e 1985 seja justificativa suficiente para ostracizar uma pessoa é bem típico da esquerda, sempre enamorada de totalitarismo bem como traço do petismo, atacar, apedrejar a quem quer que seja contra seu projeto totalitário.
Se Fernando Gabeira, José Dirceu, Franklin Martins, José Genoino, Dilma Roussef e tantos outros que comenteram crimes durante a ditadura militar levam hoje vida normal não vejo porque negar essa prerrogativa a Delfim Netto, quem, convenhamos, ofereceu muito menos perigo ao país que os quatro terroristas acima.
Se contra as convicções econômicas ou políticas de Delfim Netto não dá à ninguém o direito de rotular o homem e ainda querer ligá-lo diretamente a abusos cometidos pelo regime militar. O debate deve manter-se na esfera de ideéias políticas e econômicas mas, infelizmente, sabemos que a esquerda carece de idéias e vem batendo na mesma tecla comunizante, socializante e imbecilizante há anos. Fazer o quê, né?

Anônimo disse...

Me perdoem os analistas políticos e os intelectuais do nosso país, mas creio que a esquerda, hoje, representada pelo governo do PT, precisa de uma revisão profunda em seus conceitos ideológicos: esquerda - centro - direita, "ser ou não ser, eis a questão", com a máxima urgência, para não virar o "samba-do-criolo-doido".
No meu Ceará, o tucaníssimo filho do César Carls, foi chamado para compor o governo do PSB/PT Cid Gomes.
Paciência, ainda falta muito para eu completar os 60.

Parabéns professor.

Carlos Medeiros - Aracati

Anônimo disse...

Bom artigo. São lembranças pertinentes. Estas participações em atos da ditadura militar fazem parte do currículo de Delfim Netto. Como ele sempre esquece de colocar tais atos da vida abaixo de seus escritos é bom ter alguém que traga à memória o passado do nosso também ex-embaixador aí em Paris, quando a embaixada barsileira era famosa em assuntos extra-diplomáticos.

Bem lembrado o esforço pessoal do ex-ministro da ditadura para a criação da Operação Bandeirantes, a “Oban”, que prendeu, torturou e matou. Mesmo quem faz críticas ao Delfim Netto se esquece desta parte da sua vida e aí o currículo fica incompleto. Não é justo. Caso ele seja ministro de Lula, é um reforço bom no currículo: a capacidade de execução da “Oban” é famosa.

Anônimo disse...

Excelente seu artigo, finalmente uma reação à volta de Delfim. Sempre me surpreende a boa vontade da imprensa com Delfim e a falta de memória de cientistas políticos e economistas. Como economista não entendo o prestígio de Delfim. Mesmo com o arsenal que a ditadura lhe forneceu sua adminstração deixou como herança hiperinflação e dívidas crescentes. Além disso,Delfim manipulou índices de preços que afetaram os salários reais e a credibilidade do governo.A alta taxa de juros reais que o governo brasileiro pagaa até hoje para rolar sua dívia sem dúvida embute um prêmio de risco que deve compensar o temor de um novo calote, como o que ocorreu na época da ditadura.
Pode me incluir na sua minoria.

Anônimo disse...

Luis Felipe, quero parabenizá-lo pelo seu artigo sobre este namoro bizarro entre o Lula e o Delfim.Muitas vezes eu critiquei você , mas desta vez concordamos em gênero,número e grau.Pactos com o demônio só se justificam em situações extremas(e olhe lá): agora, reuniões em convescotes , piadinhas e gracinhas são inaceitáveis para a memória das pessoas que perderam seus entes queridos.Minha esposa também envia os votos de concordância.Agora, mudando de assunto, onde foi parar um comentário meu( também elogioso, diga-se de passagem) sobre o post da placa do Villa-Lobos ? Você recebeu ? Ou não quis publicá-lo? Enfim, apesar de nossas tantas diferenças de pensamento, feliz 2007.