sábado, 26 de junho de 2010

Celso Furtado, carioca de coração

« As estadias e as conferências de Furtado no Rio de Janeiro tangem outro elemento da trama de Formação Econômica : o ambiente político e intelectual carioca. Mal apanhado pela historiografia contemporânea, o papel do Rio de Janeiro – da Corte e da capital republicana – foi fundamental na formação da identidade nacional. Concentrando a tríplice função de capital política, econômica e cultural do país, o Rio de Janeiro exercia uma hegemonia sem paralelos no Brasil de ontem e de hoje. No plano histórico, Formação Econômica observa que a convivência na Corte entre fazendeiros de café da região e dirigentes políticos, fez com que os cafeicultores compreendessem, desde cedo, a importância de instrumentalizar o govêrno central em seu próprio benefício.
No plano intelectual e autobiográfico, Furtado fala com carinho da capital federal dos anos 1950, « cidade cosmopolita » que regia o país, onde « o debate de idéias praticamente escapava aos círculos universitários ». Em contraste com a situação prevalecente em São Paulo, a vizinhança do governo federal, a multiplicidade de centros de discussão, e a presença de um movimento trabalhista cujo líder era vice-presidente da República, associavam os intelectuais do Rio de Janeiro à concepção e à gestão de políticas públicas. Como tantos outros nordestinos, mineiros e gaúchos que se mudaram para o Rio de Janeiro no Império e na primeira metade do século XX, Celso Furtado ganhou sua identidade brasileira ao se tornar carioca de coração. »

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