domingo, 6 de dezembro de 2009

Política Externa Independente, a Revanche


Gravura de William Blake representando a Europa apoiada na América e na África (1796)

Tem havido debate no Brasil a respeito de eventuais desencontros entre a política externa estadunidense e a diplomacia brasileira. Já tinha falado sobre isso com Maria Cristina Fernandes, em O Valor do dia 27/11 (aqui para assinantes ). Nesta semana dei uma curta entrevista para Daniela Leiras, da Radio France Internationale sobre o mesmo assunto (o áudio saiu meio esquisito : eu estava em casa fazendo um lanche enquanto falava no telefone!).
« A aproximação do Brasil com o Irã tem sido alvo de críticas na imprensa americana. Para alguns analistas, o governo brasileiro exagera no excesso de pragmatismo na sua relação com governos autoritários. De acordo com uma reportagem publicada no Wall Street Journal na quarta-feira, o presidente americano Barack Obama estaria decepcionado com Lula. “O Brasil está cada vez mais próximo de nações populistas, que formam uma facção antiamericana na região, como Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua”, diz o texto. Segundo o historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor de história do Brasil na Universidade Sorbonne, na França, "não há nenhum país no mundo que desenvolva sua política externa baseada somente em relações comerciais. Sempre há uma discussão mais global sobre as relações bilaterais." Sobre a reportagem do Wall Street Journal, Alencastro lembra que a imprensa americana tem posições diferentes e pondera. Segundo ele, o jornal [revista britânica lfa]
The Economist, conservador, considera que a visita de Ahmadinejad ao Brasil, abre “uma nova porta de acesso entre o Irã e os Estados Unidos." A questão dos direitos humanos, argumento utilizado pelos EUA para criticar a diplomacia brasileira, também é um ponto contraditório, diz Alencastro. "Os EUA botam tapete vermelho e cavalaria, e batem continência para receber o presidente chinês Hu Jintao, que é presidente de uma grande ditadura, que fuzilou muçulmanos que protestaram contra a repressão."

Lembrei também que a atual diplomacia brasileira não é tão exótica assim. Ela filia-se à « Política Externa Independente », de Afonso Arinos (que era da UDN e depois foi senador pelo PSDB !) e de San Tiago Dantas, a qual tomou distância da diplomacia americana e criticou o colonialismo português na África, nos governos Jânio Quadros e João Goulart. Celso Amorim e Samuel Guimarães eram estudantes no Instituto Rio Branco nesta época e foram certamente influenciados pelo pensamento de San Tiago Dantas.

7 comentários:

Claudia disse...

Bem lembrado Felipe, fundamental a gente reforçar o papel de nossos próprios mestres e teóricos, mesmo que UDNistas.

Importante esclarecer esses pontos todos, são uma chatice sem fim esses textos todos tipo Economist e hoje (ontem) a Hillary exigindo que a turba sulista se porte melhor.

Viva a diplomacia independente!

C.

Márcio Macedo disse...

Putz, eu gosto da Economist, uma das poucas coisas que dá pra ler em inglês sem sentir o estômago embrulhar!

corival disse...

os diplomatas mais falantes falarão, animadamente, sobre uma ligação direta entre a política externa independente e a política externa do Lula. entretanto a PEI foi muito mais idealista, fundada em princípios, e propostas irrealizáveis no Brasil da época, a de hoje é mais consistente.
agora americano criticar política externa pragmática é demais.

Anônimo disse...

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Tati Campêlo disse...

Estou divulgando meu novo blog
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Se possível de uma passada lá!

Atenciosamente
Tati

Gisèle disse...

Luiz Felipe

Gosto do Amorim... e se a "atual diplomacia brasileira não é tão exótica assim. Ela filia-se à « Política Externa Independente" - isso é necessário para ser independente partidariamente.

Do William Blake gosto mais ainda!

E te parabenizo por esse elo.

Deixo minha proximidade à sua escrita - mas não é nada fácil.
´Faca de gumes´ ratifica minha preocupação e despreocupação.

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Um abraço,

Gisèle

Tecituras disse...

Luiz Felipe

Mais desdobramentos dessa ´política independente´ e , uma melhora do blog com novo endereço; ainda incompleto na estrutura, mas tecendo a proposta, que também visa a sobrevivência - em breve a programação de Tecituras pelos espaços culturais da cidade de SP.

https://tecituras.wordpress.com/

um abraço,

Gisèle