No Eurostar, logo na saída de Waterloo Station, o alto-falante anuncia que, a partir de 14 de novembro, haverá uma nova estação em Saint-Pacras. É em Bloomsbury, o Quartier Latin de Londres. De lambuja, a viagem Paris-Londres ficará 20 minutos mais curta. Será que intelectuais e os ingleses em geral vão se aproximar mais dos franceses? Duvido, No way : a tchurma em Londres continua se espelhando muito mais nos EUA. Começou durante a Segunda Guerra e continua pelo século XXI adentro.
Um colega que me ajudou muito na Faculdade e se aposentou neste ano, um cavalheiro e um erudito, contou-me que na Guerra de Independência dos EUA houve uma reunião em Versalhes, onde Luís XVI assuntou, procurando saber se valia a pena ajudar militarmente os americanos. Parte de seus conselheiros achou que sim: era, indiretamente, a revanche dos franceses sobre a derrota sofrida na Guerra de Sete Anos (1756-1763) que resultou na perda do Canadá para os ingleses. Mas outros conselheiros acharam que não: para eles, os americanos, protestantes e anglo-saxões, ficariam sempre do lado dos ingleses nos conflitos na Europa e no mundo. A história provou que estes últimos tinham razão.
E o Commonwealth cresce, até para onde não se espera: Moçambique está incluído no guia da Universidade de Londres sobre os países das universidades do Commonwealth. A França também costuma incluir Cabo-Verde entre os países da francofonia.
No hotel em que fiquei em Bloomsbury (Tavistock Hotel, velhinho simpático, com ambientes de Agatha Christie; o problema são as tomadas; é igual no Ouro Verde, em Copacabana, ou no Everest, em Porto Alegre, onde gosto de ficar: nos hotéis velhinhos simpáticos as tomadas estão atrás dos armários: tem Wi-Fi, mas o notebook tem que ficar com você pendurado na beirada da cama, ligado numa tomada na outra ponta do quarto) – e no trem onde estou agora, lí toda quase toda a imprensa inglesa.
No Eurostar há muitas revistas e jornais de graça. Nos bares e café de Londres, muito mais que em Paris, há bastante jornais de graça. Nos lugares supostamente trendy (na onda), a imprensa tradicional dá de barato que entregar de graça é uma boa estratégia para travar a concorrência dos jornais gratuitos. Não acredito nisso. Sou adepto da doutrina do Le Monde: o leitor tem que pagar o jornal para sentir que ele é coisa sua. Há algum tempo, o Le Monde tinha um princípio que não sei se ainda continua em vigor: a publicidade do jornal nunca podia ultrapassar 50% do seu preço. Ou seja: o leitor tem que pagar ao menos a metade do custo do jornal que está lendo.
O Economist, sempre bem escrito, sempre interessante, cobre muito bem a China. No último número há uma reportagem sugestiva: a parte da massa salarial no PIB chinês está caindo firme. Escorregou de 53% em 1998 para 41% em 2005 e continuou caindo em 2006. Nos EUA, onde, como se sabe, o governo não é comunista, a massa salarial representou 56% do PIB em 2005. Conclusão do Economist: o arrôcho salarial está comprometendo a evolução da economia chinesa e isso pode atrapalhar o resto do mundo: está faltando luta de classes no milagre chinês.
P.S. - Estou migrando meu blog para o UOL. Onde colaboro no UOLNews. A ferramenta é diferente: deu para levar os meus posts, mas não os comentários dos leitores. Durante algum tempo ficarei postando nos dois lugares.
Um colega que me ajudou muito na Faculdade e se aposentou neste ano, um cavalheiro e um erudito, contou-me que na Guerra de Independência dos EUA houve uma reunião em Versalhes, onde Luís XVI assuntou, procurando saber se valia a pena ajudar militarmente os americanos. Parte de seus conselheiros achou que sim: era, indiretamente, a revanche dos franceses sobre a derrota sofrida na Guerra de Sete Anos (1756-1763) que resultou na perda do Canadá para os ingleses. Mas outros conselheiros acharam que não: para eles, os americanos, protestantes e anglo-saxões, ficariam sempre do lado dos ingleses nos conflitos na Europa e no mundo. A história provou que estes últimos tinham razão.
E o Commonwealth cresce, até para onde não se espera: Moçambique está incluído no guia da Universidade de Londres sobre os países das universidades do Commonwealth. A França também costuma incluir Cabo-Verde entre os países da francofonia.
No hotel em que fiquei em Bloomsbury (Tavistock Hotel, velhinho simpático, com ambientes de Agatha Christie; o problema são as tomadas; é igual no Ouro Verde, em Copacabana, ou no Everest, em Porto Alegre, onde gosto de ficar: nos hotéis velhinhos simpáticos as tomadas estão atrás dos armários: tem Wi-Fi, mas o notebook tem que ficar com você pendurado na beirada da cama, ligado numa tomada na outra ponta do quarto) – e no trem onde estou agora, lí toda quase toda a imprensa inglesa.
No Eurostar há muitas revistas e jornais de graça. Nos bares e café de Londres, muito mais que em Paris, há bastante jornais de graça. Nos lugares supostamente trendy (na onda), a imprensa tradicional dá de barato que entregar de graça é uma boa estratégia para travar a concorrência dos jornais gratuitos. Não acredito nisso. Sou adepto da doutrina do Le Monde: o leitor tem que pagar o jornal para sentir que ele é coisa sua. Há algum tempo, o Le Monde tinha um princípio que não sei se ainda continua em vigor: a publicidade do jornal nunca podia ultrapassar 50% do seu preço. Ou seja: o leitor tem que pagar ao menos a metade do custo do jornal que está lendo.
O Economist, sempre bem escrito, sempre interessante, cobre muito bem a China. No último número há uma reportagem sugestiva: a parte da massa salarial no PIB chinês está caindo firme. Escorregou de 53% em 1998 para 41% em 2005 e continuou caindo em 2006. Nos EUA, onde, como se sabe, o governo não é comunista, a massa salarial representou 56% do PIB em 2005. Conclusão do Economist: o arrôcho salarial está comprometendo a evolução da economia chinesa e isso pode atrapalhar o resto do mundo: está faltando luta de classes no milagre chinês.
P.S. - Estou migrando meu blog para o UOL. Onde colaboro no UOLNews. A ferramenta é diferente: deu para levar os meus posts, mas não os comentários dos leitores. Durante algum tempo ficarei postando nos dois lugares.
2 comentários:
"Está faltando luta de classes no milagre chinês..." Eu lembro que há um bom tempo atrás Marshal Berman tinha atentado para esse aspecto repulsivo do triunfo da economia de mercado na China. Como os chineses se submetem a um regime draconiano de trabalho, é a mais-valia elevada à enésima potência!!!
Quanto a estória de que franceses e ingleses não se bicam tem muito de folclore, eu acho.
Os fatos históricos sobre essa disputa são muito bons para nosso conhecimento, mas a coisa está muito mais enraigada no dia-a-dia dos dois países, não? Seu blog é uma viagem deliciosa. Parabéns.Freqüentarei mais para ganhar um pouco desse conhecimento que vc distribui com tanto prazer.
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