quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Gordos e Magros

A morte trágica de uma modelo brasileira chamou a atenção para os dramas da anorexia e das perturbações alimentares entre os jovens. Falou-se da cretinice e da cupidez das agências de moda que usam os corpos de moças esqueléticas como padrão de beleza. O assunto é recorrente. Nos Sixties, os médicos já se preocupavam com os efeitos da moda magrela e escoliótica lançada por Twiggy, a maior de todas as topmodels inglesas, mesmo que a palavra 'topmodel' nem existisse ainda.
Entretanto, no outro quadrante, será que os personagens dos sitcoms e dos filmes da TV americana não passam a imagem de que todos os gordos são saltitantes e bem dispostos, disfarçando os distúrbios do excesso de pêso? Não me refiro aos gordos que se cuidam e são saudáveis ou a quem engordou por problemas de saúde. Mas há, sabidamente, uma pandemia de obesidade gerada pelos maus hábitos alimentares e a sedentaridade urbana. Sua expansão é constante. Outro dia noticiou-se que povos indígenas das Américas, da Ásia e do Pacífico estão sendo crescentemente vitimados pela obesidade e a diabete do tipo 2, causadas pela introdução de hábitos ocidentais de sedentarismo e de comidas saturadas de açúcar e gordura.
Hoje, no caminho pelo Quartier Latin para chegar à Faculdade, dei-me conta que havia cruzado com vários parisienses (descontei os que pareciam turistas) gordos. Acho que há alguns anos os gordos eram mais raros nas ruas de Paris.
Pelas praias brasileiras, onde tenho andado nas férias dos últimos anos, em Salvador, Maceió, Rio e Florianópolis, também vejo cada vez mais gente gorda. Reportagem da revista Carta Capital informa que uma pesquisa divulgada nêste mês, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), demonstra que 49,7% dos trabalhadores da indústria brasileira estão acima do peso ideal e 26,3% deles têm problema de hipertensão arterial. No Brasil, a obesidade parece avançar num ritmo mais rápido que o ritmo do recuo da fome.
P.S. Assinalo um novo campo de pesquisa acadêmica, os Fat studies. Ou seja, os estudos universitários americanos -, calcados nos modelos de estudos sobre as minorias políticas e sociais, como os African-American studies e os Gender studies -, que analisam os temas relativos às pessoas gordas na sociedade e na cultura contemporânea. Já existe uma antologia sobre a pesquisa na área, reunida no livro "Fat Studies Reader", organizado por Sondra Solovay e Esther Rothblum, da San Diego State University.


5 comentários:

Anônimo disse...

é facil falar assim em geral! o problema das pessoas obesas é muito mais complicado

Anônimo disse...

De alguma maneira a obesidade passa pelo caminho da pobreza...Digo pobreza e não miséria,onde a magreza é inevitável.Sinto nas classes baixas do Brasil um acesso súbito a uma alimentação que antes não era assim tão possível. Carboidratos são baratos.Porcarias coloridas são baratas.Proteínas e vitaminas,além de serem mais caras são menos atraentes e seu consumo depende de educação alimentar, que faz parte da boa educação e do acesso à informação como um todo.
Vejo a cada ano que passa meus pacientes da rede pública serem cada vez mais gordos.Nenhunm deles ouviu falar em gordura trans, triglicérides,ômega 3 ou qualquer uma dessas palavras estranhas.Dão ao próprio corpo um tratamento semelhante àquele dado aos seus cérebros, ou seja,preferem o fácil, gostoso, barato.Novela, Faustão e salgadinho de pacote.

Anônimo disse...

Concordo com voce marilia, e deixo uma questao no ar : Porque ser bonito nunca foi tao dificil e tao caro, os obesos e os anorexicos nao sao o exemplo mais marcante dessa geracao, traumatizada pela imagem do corpo ideal que as marcas vendem, numa sociedade onde o seu capital de simpatia depende da sua silhuleta?

Anônimo disse...

Luiz Felipe

Ouvi a tua entrevista ontem na rádio CBN e quero te pedir uma informação. Estou produzindo um filme (documentário) sobre Oswaldo Aranha. Em 1914 (com 20 anos) ele esteve na França, fazendo diversos cursos de curta duração, alguns na Sorbenne.

Um desses cursos foi na “École des Hautes Études Sociales”, sobre “Journalisme et Preparacion à la Vie Publique”. O jovem Oswaldo Aranha, em cartas para a família, faz muitos elogios para esse curso e elogia também o diretor do curso, Camille Pelletau, segundo Aranha, um “grande homem político e de letras da França”.

Tu sabes quem foi Camille Palletau? Alguma poucas informação sobre ele? Talvez algumas poucas citações criativas ou algo assim? Algum conceito formulado ou defendido por ele? Qual é a tradução correta para o título do curso “Journalisme et Preparacion à la Vie Publique” ?

Peço desculpas pela ousadia deste meu pedido de ajuda, mas aqui no Brasil não estou encontrando absolutamente nenhuma resposta para estas questões.

Saudações

Julio Wohlgemuth
juliowohlgemuth@bol.com.br

Animatógrafo Cinema e Vídeo
Brasília -DF

filo disse...

Grande Felipe, Lembro-me do garoto residente na rua XV de novembro, filho do ilustre dr.Alencastro,estudante aplicado no colégio salesiano dirigido pelo Padre Pedro Baron,e como professores Pedro Baga,Otávio Bertolini, entre outros, e o primeiro garoto que comprou uma blusa "furta-cor" vermelha igual a do James Dean.Talvez lembre-se de mim como o menos aplicado e mais travesso e que quase destruiu o consultório de seu pai para não tomar uma injeção. Junto estudávamos. Com alguns amigos daquele tempo conversamos sobre você. Luiz Antonio Cechinel, Ulisses Dutra,Toninho Schauffert(o mentiroso), o ex-comunista Bufante entre outros. Como morador de Florianópolis, volto as vezes a terrinha natal mas tudo é diferente. Aquele cinema em frente a casa de seu pai, o cine Rex acabou, foi comprado pela IURD, também os outros Cine Itajaí e Lux acabaram, resta o porto que também não é o mesmo. Lembro-me quando chegava os navios ingleses com os marinheiros cabeludos e tatuados que traziam as últimas novidades da europa, e escutávamos os Beatles, Stones, etc. A propósito, seus pais ainda vivem? Os meus sim e ainda moram lá.Grandes tempos. Abraço. Filomeno